sábado, 12 de julho de 2014

Posso Perguntar? Posso? - com Ana Nunes

Sobre o autor:

"Ana Nunes é professora de Português e de História e Geografia de Portugal. É licenciada em Antropologia (ISCSP-UTL) e mestre em Supervisão Pedagógica, pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. É autora e coautora de alguns artigos publicados na área das Ciências da Educação. Natural de Lisboa e mãe de dois adolescentes. Sempre gostou de contar histórias e é admiradora da grande riqueza e variedade do património cultural português. É feliz quando o mar está por perto, nos momentos em que viaja e lê livros, pois acredita que ao ler entra-se em contacto com o mundo e com tudo o que nele acontece e de que a vida é feita."


Entrevista:

Quando é que começou a escrever?

Comecei a escrever por volta dos 9 anos, quando frequentava o actual 5º ano. Foi um projecto a quatro mãos (como se naquele tempo, soubéssemos o significado ou o universo da palavra projecto), pois as histórias de aventuras eram redigidas por mim e ilustradas por uma amiga tão velha quanto eu. Com o distanciamento desejável, retenho o essencial: foi uma actividade feita com prazer, ocupando muito do nosso tempo livre e aguçando o apetite pela leitura e pela escrita.
 
No entanto, o “bichinho” da escrita foi sendo direccionado para outras vertentes: nos meios académico e profissional; não deixou de coexistir no meu quotidiano, tendo continuado a produzir manuscritos no mesmo registo – género infanto-juvenil .
 
 
Onde é que costuma escrever?
 
Vou ter a liberdade de reformular a pergunta – onde mais gosto de escrever? Junto ao mar, sem qualquer dúvida. Sentada no terraço a que tenho o grato benefício de poder recorrer, deixo-me envolver pelo azul imenso e embarco na escrita. Mas como a vida não se compadece dos nossos gostos, e nem sempre é possível visitar o meu abrigo junto ao mar, também escrevo, preferencialmente, em espaços ao ar livre.
 
 
Qual é o primeiro livro que se recorda de ler?
 
Esta é uma pergunta para estimular a memória! Depois de aprender a magia da leitura (já lá vai tanto tempo…), li e reli centenas de vezes: Raptado, de Robert Louis Stevenson;  As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain; Rosinha Minha Canoa, de José Mauro de Vasconcelos. Como praticamente a maior parte da minha geração, delirava com todos os livros da Enid Blyton. Por outro lado, tive o privilégio de conviver bastante tempo com o meu avô materno que, como opositor ao Estado Novo, activista no MUD e militante comunista na clandestinidade, iniciou-me na leitura dos chamados livros proibidos. Foi assim que, no decurso da minha pré-adolescência, dei comigo a ler Gaibéus, de Alves Redol, Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, e As vinhas da ira, de John Steinbeck.
 
 
Que autores influenciaram a sua escrita?
 
Não consigo enumerar os autores que me influenciaram directamente. Todos aqueles que fui lendo acabaram por deixar as suas “pegadas”. A minha escrita, como a de qualquer autor, procura a sua própria identidade.
 
 
Quais são os seus livros preferidos? E autores?
 
Se eu embalasse numa resposta tão aberta como a pergunta sugere, esta entrevista seria quase infinita… Livros e respectivos autores foram um porto seguro em toda a minha vida. Como tal, o acervo bibliográfico da minha memória é muito extenso. Revisitando os que tenho lido mais recentemente, gosto muito de Mia Couto e de José Eduardo Agualusa. Eles convocam e retratam outra das minhas paixões – África.


Qual a melhor companhia para um livro? Um café, praia, o quentinho do sofá?

Mar, eu e um livro – não encontro melhor conjugação.


Porque escolheu escrever para um público jovem? O facto de ser professora teve importância?

São duas questões que estão definitivamente interligadas. Ser professora e relacionar-me diariamente com jovens determinaram as intenções pedagógicas que deram corpo à colecção “4 Quadrantes”, congregando essencialmente duas vontades: 1.ª motivar os mais jovens para a leitura, sendo que, pessoalmente, considero que escrever para o público jovem se reveste de uma enorme responsabilidade, no sentido de que nos compete contribuir para a formação de cidadãos críticos, atentos ao que se passa; 2.ª despertar nos mais jovens o gosto pelo conhecimento do riquíssimo património cultural português, para que se apercebam sobre a importância da valorização e da preservação desse mesmo património. Poderão perguntar: Mas na escola não se aborda esse domínio? De facto, o currículo nacional contemplá-lo-á em alguns programas disciplinares; no entanto, considerando a curiosidade que muitos jovens oportunamente demonstram sobre o mesmo, permitiu concluir que não é possível proporcionar-lhes o aprofundamento de muitos aspectos que eles gostariam de conhecer melhor e com maior detalhe.
 

O que a inspirou ao escrever “O Enigma do Castelo Assombrado"?

A envolvência da vila de Sesimbra, a proximidade do mar e o colorido piscatório, o castelo medieval e a lenda das mouras encantadas, que dizem viver na cisterna, foram as principais inspirações deste livro.


Porque escolheu Sesimbra como pano de fundo desta aventura?

Para esta aventura convoquei as minhas recordações de uma infância e de uma adolescência muito felizes, passadas em Sesimbra. Algumas das peripécias dos “4 Quadrantes” estão ancoradas em experiências que eu vivenciei – as pescarias nocturnas, os raides de bicicleta com os amigos por inúmeros trilhos do Parque Natural da Arrábida … Como costumo dizer: tenho um bocadinho da minha alma em cada canto daquela terra.


As suas personagens são baseadas em alguém que conheça?

Definitivamente, sim. As minhas personagens são um misto de características físicas e psicológicas de muitos dos jovens que fui tendo o prazer de conhecer. Certamente que a partir da observação e do exercício que Rubem Alves designa por “escutatória”, fui apropriando determinados traços dos meus interlocutores (tanto que eu aprendi e continuo a aprender com eles…) e resolvi transpô-los para a Constança, para a Ema, para o Lucas e para o Vicente. O Sam é o único personagem não ficcional do livro/colecção – ele é o elemento canino da minha família.


Quem foram as primeiras pessoas a quem mostrou o seu livro?

A quem não devia: à família e aos amigos; muito embora lhes tenha solicitado que tentassem “olhar” para o que estavam a ler, esquecendo a carga emocional própria dos laços familiares ou de amizade. É outro conselho a reter para os que pretendam abraçar a escrita – dever-se-á apresentar o nosso trabalho a quem seja imparcial e nos possa emitir um feedback isento.


O que diria a alguém que se estiver a iniciar como autor?

Em poucas palavras: determinação, sempre; desistir, nunca; escrever e reescrever todas as vezes necessárias, após uma questionação constante sobre o trabalho desenvolvido.


Quais são os seus projectos futuros? Passam pela continuação dos Quatro Quadrantes, ou por novas aventuras literárias?

Pretendo continuar as aventuras dos “4 Quadrantes” de uma forma sustentada. Não gostaria que este fosse um projecto que morresse na praia, com a publicação de um único livro. É minha intenção prosseguir a matriz da colecção: revelar os traços identitários de um património cultural comum, elencando factos históricos nas narrativas, que exigem investigação da minha parte. E o melhor de tudo será enredá-los com a inevitabilidade de os quatro jovens se meterem em constantes sarilhos e tentarem resolver intrincados mistérios. Acabei de enviar o segundo volume desta série para a Editora… Aguardemos para ver o que o futuro reserva.


Gostaríamos de agradecer à Ana por nos ter concedido esta entrevista e ainda por nos ter disponibilizado o seu livro. Ana, desejamos-lhe as maiores felicidades e muita sorte para os seus projetos futuros!

Sem comentários :

Enviar um comentário