sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Opinião - "Boneca de Luxo", Truman Capote

Sinopse

Edição: 2002
Páginas: 95
ISBN: 8481305561
Goodreads: mais informação aqui.
"Em 1958, numa América ainda não imune ao espectro da guerra fria e já marcada por uma certa ânsia de transgressão, Boneca de Luxo parecia combustanciar verdadeiramenteo espírito da época e, ao mesmo tempo, propor uma filosofia de vida capaz de converter os modelos severos de moral puritana numa prática pura de alegria, da "irreflexão", da vitalidade.

Holly Golightly, a extraordinára protagonista, é uma rapariga alegremente avessa às convenções sociais e às conveniências, que se orienta nas sua opções por uma profunda moralidade, feita de solidariedade, de gestos generosos, de absoluta falta de malícia, e que, precisamente por isso, infringe as obtusas normas de moral burguesa. Com a pequena corte de indivíduos "esquisitos" de que se rodeia, constitui um núcleo que involuntariamente prefigura uma socialidade diferente, mais aberta e, afinal de contas, mais feliz. Mas o mundo que a circunda não aceita facilmente a sua ingénua atitude contra a corrente, e Holly será obrigada a pagar por isso: envolvida sem culpa numa questão de droga, acabará por se libertar, mas será abandonada pelo homem com quem estava para casar. E, todavia, o conformismo não triunfa, já que a rapariga parte, pronta a recomeçar a sua vida noutro lado, com uma carga vital quiçá acrescida.

Divertido, fascinante, perfeitamente equilibrado do ponto de vista estilístico, este romance é, sem dúvida, a obra mais feliz e agradável da actividade literária de Truman Capote - apesar de estarmos na presença de um apaixonado e firme empenho de denúncia civil."


Opinião

Há muitas obras e autores que já fazem parte da minha lista de leitura desde que me lembro, e Breakfast at Tiffany’s era um deles. De Capote não havia lido nada, apenas visto o filme homónimo, quando este estreou (não tinha maturidade suficiente para o apreciar, na verdade, mas ficou-me na mente…)

Audrey Hepburn como Holly Golightly,
no filme de Blake Edwards de 1961.

Qual não é o meu espanto quando, ao fazer arrumações em casa, dou com esta pequena edição de Boneca de Luxo, de apenas 95 páginas, e perfeita para interromper a série de livros longos que tenho na minha pilha de leitura. Estava na altura de conhecer Ms. Holly Golightly, de quem já tanto tinha ouvido falar.

E com razão. Holly, ou a versão de si que lhe queiramos chamar, é das personagens mais interessantes que já encontrei. Podemos descrevê-la como louca, estranha, moralmente censurável, progressista, sobrevivente, inocente, sábia, uma feminista bebé, uma criança a brincar aos crescidos, e a ganhar a todos eles. 

A história é contada por um dos poucos bons amigos de Holly, e foca-se na breve época em que conviveram no mesmo prédio. Neste relativamente curto espaço de tempo, ficamos a conhecer mais de Holly do que do próprio narrador, pois embora a natureza privada de ambos os impeça de partilhar, “Fred”, como foi apelidado por ela, consegue, por vias mais ou menos acidentais, descobrir mais sobre Ms. Golightly.

A narrativa é interessante, apesar de não haver nenhum acontecimento muito marcante; as personagens são muito bem construídas, e a sua personalidade preenche cada espaço que poderia estar vazio. Quanto à escrita, é impecável. Quando comecei a ler, a minha mente não estranhou o estilo, pelo contrário; estava a ser até demasiado familiar. Apercebi-me que estava a associar a obra às de Nabokov que já tinha lido, especialmente Lolita (que adoro igualmente, apesar do tema mais sombrio). Penso que, para quem gostar do escritor, a leitura de Boneca de Luxo vai ser bastante agradável. 

Idem

Para mim, esta é uma história sobre como muitas vezes construímos uma redoma à nossa volta, mais ou menos transparente, mas que inevitavelmente quebra num qualquer momento, expondo quem somos realmente e as nossas verdadeiras paixões. Holly foi obrigada a crescer rápido, a criar uma personagem que lhe permitisse sobreviver, e consequentemente foi perdendo pequenas partes de si. Movimenta-se pelos mais diversos círculos com passos leves mas seguros, sem nunca pertencer a nenhum lugar. Aqueles a quem, como o narrador, é dado permissão para ver a mulher por trás da máscara, e que têm um espírito suficientemente aberto para a tentar compreender, são permanentemente cativados por Holly, como diria Saint-Exupéry, e esta passa a ser única no mundo.



4 comentários :

  1. Olá,

    Bem deve ser um livro muito interessante e que se lê bem rápido, tantos livrinhos bons que o jornal Público promoveu :)

    Tenho o livro a Sangue Frio do escritor por ler e comprado por um euro na revista Sábado, mas ainda não li :)

    Bjs e boas viagens literárias :D

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    1. Olá Fiacha!

      Descobri muitos tesouros em casa que nem sabia que tinha, à conta dessa colecção!

      O filme que vi é precisamente baseado no "A Sangue Frio", mas já não me recordo bem dele, fiquei com imensa vontade de o ler. :)

      Beijinho e como sempre,
      Boas viagens ;)
      Bárbara

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  2. Olá.
    Com certeza deve ser um livro interessante (claro que deve ser, com a sinopse que tem!) :)
    Beijos.
    -F

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    1. Olá!

      É mesmo, e lê-se bem :) Aconselho vivamente!

      Boas viagens :)
      Bárbara

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