sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Opinião " Persuasão", de Jane Austen


Sinopse


" É em Persuasão, o último romance acabado de Jane Austen, que encontramos a sua heroína mais notável - Anne Elliot. Sobre ela escreveu, um dia, a autora: «Ela é quase demasiadamente boa para mim.» No entanto, naquela que é a sua obra mais amadurecida, que descreve uma órbita de afastamento nítida em relação ao tom predominantemente satírico dos seus anteriores romances, Jane Austen trata o carácter e os afectos da protagonista de uma forma que, sem perder totalmente de vista a ironia, é, sem sombra de dúvida, muito mais terna, e anuncia já uma percepção mais aberta e dinâmica da personalidade e comportamentos humanos.

Uma história de amor, desenvolvida com profundidade e subtileza, proporciona o campo ideal para um estudo reflectido, que sustenta na sua linha de horizonte o complexo relacionamento entre os dois sexos, e no qual homem e mulher surgem como seres moralmente análogos."


Opinião 

Persuasão, de Jane Austen, um clássico da literatura do século XIX, repousava pacientemente na minha estante até que, finalmente, brotou em mim uma vontade de voltar aos clássicos e às histórias de Amor avassaladoras que eles abrigam. 

Em Persuasão, Jane Austen apresenta-nos Anne Elliot, uma jovem bondosa, dócil e reservada, que se apaixona pelo Capitão Frederick Wentworth, cujo único defeito é não possuir título e fortuna que o tornem digno aos olhos da família Elliot e sobretudo aos da amiga de Anne, Lady Russel, que ocupa no coração de Anne um maternal lugar e que por isso acaba por persuadi-la a renunciar ao noivado com Frederick. 

Volvidos oito anos, Anne e Frederick reencontram-se. Anne é agora uma mulher adulta e, embora sempre solícita e delicada, muito mais firme. Já Frederick regressa com um estatuto que o faz ser cobiçado por todas as demais personagens femininas. 

Terá o Amor resistido à passagem do tempo? Poderá Frederick ter esquecido uma rejeição embasada num preconceito social? Manterá Anne intactos os seus sentimentos ou poderão as novas figuras masculinas que a rodeiam despertar mais o seu interesse? 

Deixo estas perguntas para os amantes de grandes histórias de Amor, para os motivar a percorrer as páginas desta obra inigualável, ou pelo menos tão grandiosa como o Orgulho e Preconceito, um dos meus livros preferidos de sempre. Talvez por comparação goste mais da Elizabeth Bennet enquanto uma protagonista mais forte e destemida, uma vez que a Anne às vezes me irrita com a sua disponibilidade constante para os outros. Todavia, também ela cresce ao longo da obra, segurando progressivamente com mais firmeza as rédeas do seu fado. 

Jane Austen escreve de forma exímia, realmente bela, e que nos faz suspirar profundamente e s-e-n-t-i-r cada palavra. A autora introduz as personagens de forma tão subtil que quando nos vemos enredados por uma multidão não percebemos como tal aconteceu. 

Ressalvo apenas que Persuasão é uma leitura de ritmo lento e que pode inclusive vos fazer pensar que foram abraçados pelo Deus Hypnos, pelo que não o considero um livro para todos os tipos de leitores, mas mais para os enamorados do género. Para mim a narrativa decorre com o passo certo, dando tempo ao leitor para perceber as personagens, as suas intenções, as suas dúvidas, medos, anseios e os seus desejos mais íntimos, revelados em minuciosos gestos, fugídios olhares e pequenos sorrisos, tudo envolto na névoa púdica de outros tempos. (Oh como se ruborizariam as faces de Jane Austen se lê-se as As Cinquenta Sombras de Grey!) 

Jane Austen leva-nos numa viagem até ao século XIX e faz, naturalmente, uma crítica à sociedade que a rodeava, condenando o culto das aparências e o custo para as manter, repudiando os preconceitos, mas deixando sempre espaço para que as personagens sejam fiéis a si mesmas, que percorram o seu caminho independentemente da circunstância que as envolve, e deixando, também, a mensagem que por vezes são os amigos, mais que a família, a estarem do nosso lado mesmo quando não sabemos de que lado estamos. 

No fim, a vontade é de pegar noutro livro desta autora e, no entretanto, gritar de copo na mão: um brinde … ao Amor! 



Podem ler a opinião da Sofia Aqui.

6 comentários :

  1. Este foi o livro de que menos gostei da autora :/

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    1. Olá Bárbara,
      a sério? Mas por algum motivo em particular? Já tinha ouvido críticas menos boas do Sensibilidade e Bom Senso e da A Abadia de Northanger :/

      Boas viagens,
      Tomé

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    2. Li-os todos (menos os incompletos/contos, que é como quem diz, os Sanditons e Lady Susan); o Northanger Abbey é hilariante mas acho que é muito incompreendido, porque é uma paródia a livros populares na altura, de terror, com heroínas assustadiças em lugares assombrados, e a maioria das pessoas não o sabe, logo, não o lê como paródia; o Sense & Sensibility peca por ser algo moroso e repetitivo, por ser semelhante ao Pride and Prejudice, mas com personagens menos interessantes (acho), mas é bom. Para mim, o Persuasion foi chato, com personagens chatas. Vale por ser curto, mas o enredo em si é um pouco aborrecido. O Mansfield Park padece do mesmo... Mas o enredo é um pouco melhor (a personagem principal é extremamente insípida).

      Recomendo o Emma!

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    3. De facto, em livros de outras épocas às vezes perceber o contexto pode fazer a diferença.
      Acho que da próxima vez que me cruzar com a Jane Austen vou então optar pela companhia do Emma :)

      Boas viagens,
      Tomé

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  2. Li este livro há cerca de 2 anos e apesar de não me lembrar de muita coisa da história, ainda me recordo do quão gostei de o ler :) Mas fica um bocado aquém do Orgulho e Preconceito e da Elizabeth Bennet, como disseste :p
    Espero para o ano pegar em mais títulos da Jane Austen, serão com certeza romances de qualidade :)

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    1. Olá Mariana,
      A Elizabeth é um padrão demasiado alto, é mesmo uma personagem cheia de força e garra, a Anne não tinha hipótese nessa competição :D
      Sabe sempre bem um clássico a meio de outras leituras, e Jane Austen é sempre uma boa escolha :)

      Boas viagens,
      Tomé

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