domingo, 4 de outubro de 2020

Opinião " Todos os Nomes", José Saramago

Wook.pt - Todos os nomesSinopse


O protagonista é um homem de meia-idade, funcionário inferior do Arquivo do Registo Civil. Este funcionário cultiva a pequena mania de colecionar notícias de jornais e revistas sobre gente célebre. Um dia reconhece a falta, nas suas coleções, de informações exatas sobre o nascimento (data, naturalidade, nome dos pais, etc.) dessas pessoas. Dedica-se portanto a copiar os respetivos dados das fichas que se encontram no arquivo. Casualmente, a ficha de uma pessoa comum (uma mulher) mistura-se com outras que está copiando. O súbito contraste entre o que é conhecido e o que é desconhecido faz surgir nele a necessidade de conhecer a vida dessa mulher. Começa assim uma busca, a procura do outro.


Opinião


Há já algum tempo que não lia uma obra de um dos meus escritores preferidos, por isso, fui até às minhas estantes em busca de um título de José Saramago, e entre A Caverna e Todos os Nomes optei por este último. Não tendo alcançado um lugar de destaque nos meus preferidos do autor, Todos os Nomes foi uma leitura agradável, que não decepciona e não foge ao estilo a que o nosso Prémio Nobel nos habituou.

O protagonista, o Sr. José, é auxiliar de escrita na Conservatória Geral. Vive a paredes-meias com a Conservatória, estando, no entanto, proibido de usar a passagem directa. Este auxiliar de escrita, um vulgar, triste e solitário Zé, como tantos os há por aí, tem como hobbie colecionar recortes de gentes portuguesas famosas. Ocorre-lhe então que tem acesso privilegiado a algumas informações que não vêm nas revistas, e aventura-se durante a noite a procurar os verbetes dos famosos e a transcrever as informações para a sua sui generis coleção. Numa dessas aventuras nocturnas traz acidentalmente o verbete de uma desconhecida. E começa a sua demanda por essa mulher de quem tão pouco sabe e de quem tanto quer saber. O Sr. José troca assim a sua existência pacata, a sua quase inexistência, por uma aventura rocambolesca e com muitos becos sem saída e, aparentemente, destinada ao fracasso. Como demais acontece a todos nós, afinal o que é a Morte senão o derradeiro fracasso? Será o cumprir dos nossos objectivos o que verdadeiramente importa ou o caminho que fazemos até lá?

Este foi para mim um livro sobre a procura, sobre o sentido da vida, que culminou num final um tanto ou quanto nonsense, mas talvez propositadamente nonsense. Trouxe-me à memória O Conto da Ilha Desconhecida por também se debruçar na procura, quando tantas vezes as respostas estão em nós próprios.

Todos os Nomes tem um protagonista que podia ser qualquer um de nós, nas nossas buscas mesquinhas e solitárias, que nos ocupam o quotidiano e nos distraem das questões pesarosas e fundamentais: qual o sentido de tudo isto? Para onde caminhos?

Recomendo esta leitura, principalmente para os fãs de Saramago, pois talvez não seja a melhor obra para começarem com este autor, por ser um livro que se perde no seu sentido secundário, sendo mais um ensaio filosófico que um romance per se


Podem ler opiniões a livros de José Saramago, previamente publicadas no blogue, aqui.


2 comentários :

  1. Não vejo falar-se muito deste livro de Saramago, mas deixou-me curiosa! Hei-de ler um dia porque espero ainda vir a ler todos os livros do autor. O próximo a que me vou agarrar é "Ensaio sobre a Lucidez" :)

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    1. Olá Mariana,
      também gostava de ler todos dele :D mas claro por comparação uns com os outros alguns vão ser pequenas desilusões, o que me aconteceu com o Ensaio Sobre a Lucidez, por ter gostado tanto do Ensaio Sobre a Cegueira. Mas é um bom livro!

      Boas viagens,
      Tomé

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