quinta-feira, 12 de maio de 2016

Opinião "A História de Uma Serva", Margaret Atwood

Sinopse

“Uma visão marcante da nossa sociedade radicalmente transformada por uma revolução teocrática. A História de Uma Serva tornou-se um dos livros mais influentes e mais lidos do nosso tempo.

Extremistas religiosos de direita derrubaram o governo norte-americano e queimaram a Constituição. A América é agora Gileade, um estado policial e fundamentalista onde as mulheres férteis, conhecidas como Servas, são obrigadas a conceber filhos para a elite estéril.

Defred é uma Serva na República de Gileade e acaba de ser transferida para a casa do enigmático Comandante e da sua ciumenta mulher. Pode ir uma vez por dia aos mercados, cujas tabuletas agora são imagens, porque as mulheres estão proibidas de ler. Tem de rezar para que o Comandante a engravide, já que, numa época de grande decréscimo do número de nascimentos, o valor de Defred reside na sua fertilidade, e o fracasso significa o exílio nas Colónias, perigosamente poluídas. Defred lembra-se de um tempo em que vivia com o marido e a filha e tinha um emprego, antes de perder tudo, incluindo o nome. Essas memórias misturam-se agora com ideias perigosas de rebelião e amor.” - in Goodreads

Edição: 2013 (primeira edição 1985)
Páginas: 348
ISBN: 9789722525770

«O romance mais intenso e poético de Atwood.» -Maclean's
 «A História de Uma Serva vem na honrosa tradição de Admirável Mundo Novo e outros alertas de distopia. É imaginativo, até audacioso, e expressa uma arrepiante sensação de medo e de perigo.» - The Globe and Mail

Opinião

"A História de uma Serva" é o livro que todas as mulheres deviam ler, em algum momento das suas vidas. 

A sociedade Gileadeana evoluiu, a partir dos anos 80, do mundo sem ordem e em desintegração social que conhecemos dos livros para uma nova ordem social, criada por um grupo intitulado Filhos de Jacob. Em Gilead todos têm um papel fundamental a cumprir. O da narradora desta obra é de Serva - talvez o mais importante no papel, e o mais ingrato na realidade.

Defred (literalmente de Fred, ou Offred [of Fred] no original) conta-nos como é ser uma Serva no início do regime Gileadeano. Vemos pelos seus olhos a formação inicial das Servas e a sua indoctrinação (ou tentativa de).

A Serva chega à casa do Comandante pronta para cumprir a sua função. É recebida pela Esposa, que julga reconhecer da sua infância, com uma certa hostilidade latente - nada que não esperasse; pelas Martas com indiferença, quando muito, com tolerância e uma certa esperança; por Nick, o motorista e ajudante do Comandante, com uma reacção que não compreende; e pelo Comandante... de maneira nenhuma. Defred é apenas um veículo. Não é suposto ter contacto com o Comandante fora da noite da Cerimónia.

A crítica social é evidente. Os princípios de Gilead provêm do cristianismo (a Cerimónia baseia-se na história bíblica de Raquel e Lia), mas tem elementos de outras religiões, pelo que será mais uma crítica ao fundamentalismo religioso e ao aproveitamento das crenças religiosas para motivos políticos, na minha opinião. Trata-se de um regime totalitarista, completo com polícia política e cuja pena pelos crimes contra o regime passa muitas vezes pela morte, sempre disfarçando as medidas como para protecção dos cidadãos cumpridores. E, obviamente, a misoginia do regime, pedra basilar do mesmo, é mascarada como medida de respeito maior para as mulheres.

Defred e Deglen visitam o muro.

Poderíamos pensar que abordar algo que parece tão complexo do ponto de vista de uma só personagem seria redutor, mas Defred é em si uma história dentro de uma história. Quando mergulhamos nas suas memórias e nas suas reflexões acerca da condição em que se encontra, e da relação que lhe é permitido manter com os poucos que a rodeiam, quase conseguimos esquecer que não somos Defred e aquelas não são as nossas vivências. Que aquela que nos fala não é uma melhor amiga nem a nossa consciência, infinitamente mais sábia que nós e mais ciente do que queremos e precisamos. Que o que importa realmente é esta pessoa e a sua vida, o seu ânimo dia após dia, se vai ou não conseguir ultrapassar os desafios que o destino lhe lança. Defred vive, apesar da sua vida, mesmo que por vezes viver esta vida seja impensável.

"A História de Uma Serva" é um romance especulativo, distópico, e sobretudo uma reflexão belíssima sobre a condição humana e sobre a liberdade de ser ou sentir versus a liberdade de fazer, que nos leva a reflectir sobre aquilo que nos move enquanto pessoas. É, como já disse, um livro que considero importante para todas as mulheres, pela temática geral eminentemente feminista, mas também para os homens, pois obriga à reflexão sobre sentimentos que são universais.


2 comentários :

  1. Olá,
    Adorei a tua opinião. Tenho estado muito curiosa com este livro pelas temáticas que encerra. Assim que tiver oportunidade tenho que o ler.

    Boas leituras!

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    Respostas
    1. Olá Su!
      Fico contente por teres gostado! Eu também andei algum tempo com vontade de o ler depois de ver a sinopse, e superou as expectativas. Recomendo! :)

      Boas viagens,
      Bárbara

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