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quarta-feira, 10 de julho de 2024

Opinião “Os Armários Vazios”, Annie Ernaux

Sinopse:

Esta é uma história de rutura social. Denise Lesur tem vinte anos e é a primeira da sua família a frequentar o ensino superior. Os pais, proletários e com escassa instrução, pouco têm que ver com os burgueses, educados e com acesso à cultura, a que ela está prestes a juntar-se. Sozinha no dormitório, enquanto recupera de um evento doloroso, Denise reflete sobre o seu crescimento, todos os sacrifícios feitos pelos pais, a estranheza cada vez maior em relação às suas origens e a raiva que transporta por se ver marcada pelo fracasso. Os Armários Vazios foi o primeiro romance publicado por Annie Ernaux, em 1974, e nele surgem já as sementes daqueles que serão os grandes temas da sua obra – o choque de classes, a condição da mulher, o trauma –, num questionamento tenaz da identidade.


Opinião:

Com o pequeno Tomás, o tempo para ler e escrever está sem dúvida mais reduzido e, por isso, esta opinião ficou um pouco pendente.

No geral, gosto de ler as obras de autores que alcançaram o Prémio Nobel da Literatura e, por isso, não poderia deixar de ler Annie Ernaux. Talvez não tenha começado pela sua melhor obra, nem pela mais conhecida. No entanto, diz-nos a sinopse que este foi o seu primeiro romance publicado, e que nele surgem as sementes daqueles que serão os grandes temas da sua obra.

O livro é quase um diário da autora acerca da sua vida, englobando vários temas, mas sobretudo reforçando o quanto desprezava os seus pais que, apesar de viverem de forma relativamente precária, tentaram dar-lhe tudo. Também a diferença social entre os pais e o colégio onde estudou ocupam grande plano. Deixo aqui um excerto que traduz esta diferença:


“Nem sequer era a mesma língua (...) Existe um mundo entre elas (...) É pior que uma língua estrangeira (...) Neste caso, eu percebia quase tudo o que a professora dizia, mas não teria sido capaz de usar aquelas palavras por mim própria, os meus pais também não, a prova é que eu nunca as tinha ouvido em casa.”


Confesso que o livro não me conquistou, no entanto, vou dar outra oportunidade a outras obras da autora. Apesar de tudo, a escrita visceral é diferente, e acaba por dar uma dimensão ainda maior a tudo o que a autora aborda. Independentemente de empatizarmos ou não com a autora, a verdade é que a sua honestidade e o tipo de escrita trazem ao de cima temas e problemas que nem sempre são expostos desta forma dura e crua.

Por fim, deixo o meu agradecimento à Porto Editora pela cedência do exemplar para divulgação, leitura e opinião.


🌟🌟🌟



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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Novidade Grupo Porto Editora - Livros do Brasil - "Os Feitos do Rei Artur e dos Seus Nobres Cavaleiros", John Steinbeck

Sinopse:

Desde a infância, John Steinbeck viveu fascinado com a história do rei Artur e dos cavaleiros da Távola Redonda. Em 1956, começou a escrever a sua própria versão daquelas aventuras, com a intenção de atrair novos leitores para o mundo maravilhoso fundado por Sir Thomas Malory no seu A Morte de Artur. Foi um projeto que o terá acompanhado até ao fim dos seus dias, datando de 1965 a última comunicação com os seus editores sobre este livro, que então considerou «estranho e diferente». O texto que agora damos, pela primeira vez, a ler em Portugal seria publicado apenas postumamente, em 1976. Apesar de se tratar de uma obra inacabada, Os Feitos do Rei Artur e dos Seus Nobres Cavaleiros é inegavelmente uma história apaixonada, cheia de diversão e entusiasmo pelo imaginário de um mundo de heróis e malfeitores, espadas e cavalos, amor e lealdade que continua a fazer sonhar.

ISBN: 978-989-711-219-5
Coleção: Dois Mundos
Tradução: J. Teixeira de Aguilar
Páginas: 448
Classificação Temática: Romance

Sobre o autor:

Nasceu em Salinas, na Califórnia, em 1902, numa família de parcos haveres. Chegou a frequentar a Universidade de Stanford, sem concluir nenhuma licenciatura. Em 1925 foi para Nova Iorque, onde tentou uma carreira de escritor, cedo regressando à Califórnia sem ter obtido qualquer sucesso. Alcançou o seu primeiro êxito em 1935, com O Milagre de São Francisco ( Tortilla Flat na edição original), confirmado depois, em 1937, com a novela Ratos e Homens. A sua ficção está marcada por uma imensa preocupação com os problemas dos trabalhadores rurais e também por um grande fascínio para com a terra. Em 1939, publicaria aquela que, por muitos, é considerada a sua obra-prima, As Vinhas da Ira. Entre os seus livros, destacam-se ainda os romances A Leste do Paraíso (1952) e O Inverno do Nosso Descontentamento (1961), bem como Viagens com o Charley (1962), em que relata uma viagem de três meses por 40 estados norte-americanos. Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1962. Faleceu em Nova Iorque, a 20 de dezembro de 1968.


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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Novidade "A Vergonha", Annie Ernaux

Sinopse:

«O meu pai quis matar a minha mãe num domingo de junho, ao começo da tarde.» 

É com esta frase que Annie Ernaux inicia a história de uma menina de doze anos, agora mulher, escritora e bem-sucedida, defronte dos ecos de uma recordação que marcaria para ela o fim da infância. Valendo-se da voz cativante da melhor literatura e do olhar analítico das ciências sociais, Annie Ernaux parte de vestígios concretos daquela época, fotografias, canções, livros e revistas, para convocar as sensações, os medos e anseios escondidos de uma jovem a quem ensinaram, acima de tudo, a evitar o que é malvisto. Esta é uma reflexão possante sobre o poder da memória e a forma como um só evento é capaz de alterar a consciência que se tem de si e do seu meio social.

«A vergonha transformou-se, para mim, num modo de vida. No limite, já nem me apercebia dela, fazia parte do meu próprio corpo.»

Tradução: Maria Etelvina Santos
ISBN: 978-989-711-236-2
Páginas: 96
Coleção: Dois Mundos
Classificação Temática: Romance


Sobre a autora:

Annie Ernaux nasceu em Lillebonne, na Normandia, em 1940, e estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas. É atualmente uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes. Galardoada com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da sua obra, destacam-se os seus livros Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional. Em 2022, Annie Ernaux foi distinguida com o Prémio Nobel de Literatura.


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terça-feira, 17 de maio de 2022

Opinião "Ao Longe", Hernan Diaz

Sinopse

Um rapaz sueco desembarca na Califórnia, sozinho, sem um tostão no bolso e sem entender uma palavra de inglês. Confia que na costa oposta, em Nova Iorque, o seu irmão mais velho o espera, juntamente com as garantias de uma vida próspera e tranquila, e não lhe resta mais do que pôr-se a caminho, a pé. Durante esta longa viagem, esbarra com o fluxo de gente que procura no Oeste ouro e terras férteis, conhece naturalistas, criminosos, fanáticos religiosos, índios, homens das leis e das armas e, entre avanços e recuos, à medida que se torna um homem, torna-se também uma lenda. Com este que foi o seu romance de estreia, Díaz reconfigurou as convenções da ficção histórica, forçando um olhar sobre os estereótipos que povoam a nossa ideia de passado e os seus protagonistas. Ao longe anuncia um excecional autor.



Opinião 

Quando a Livros do Brasil anunciou Ao Longe, de Hernán Díaz, confesso que foi a primeira vez que tive conhecimento deste livro e do seu autor, o qual conseguiu ser finalista do prémio Pulitzer em 2018 com este seu romance de estreia. A sinopse chamou-me imediatamente à atenção e não resisti a ler este livro assim que surgiu a oportunidade!

Em Ao Longe, Hernán Díaz leva-nos numa viagem a acompanhar Håkan, um rapaz que parte da Suécia com o seu irmão Linus em busca de um futuro melhor em Nova Iorque. No entanto, os irmãos perdem-se um do outro e Håkan acaba por desembarcar na costa oeste em São Francisco. Não tendo outra opção, Håkan decide ir em busca do irmão, avançando pela longa travessia terrestre da América. Aqui, o autor pega habilmente no típico ambiente do western americano para explorar as difíceis condições de vida do século XIX demonstrando os diferentes conflitos existentes, e nos quais Håkan acaba por se ver envolvido. O autor oferece-nos uma descrição detalhada do estilo de vida que Håkan segue e da sua evolução enquanto pessoa desde um pequeno rapaz até à velhice, e da sua relação com outros viajantes com quem se cruza, mas principalmente da sua relação com a solidão.

Esta é uma leitura que merece ser saboreada, pois explora muito bem a condição humana e, apesar de bastante descritiva, nunca me causou um momento de aborrecimento. Fico desde já muito curioso para os próximos livros que este autor nos tenha para oferecer!
 
 
 
Agradecemos à Porto Editora e à Livros do Brasil pela cedência deste exemplar de forma a partilharmos convosco a nossa opinião.

 

domingo, 1 de agosto de 2021

Opinião "O velho e o Mar", Ernest Hemingway

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Sinopse

Santiago, um velho pescador cubano, está há quase três meses sem conseguir pescar um único peixe, quando o seu isco é finalmente mordido por um enorme espadarte. O peixe imponente resiste, arrasta a sua canoa cada vez mais para o alto mar, na corrente do Golfo, e obriga a uma luta agonizante de três dias que o velho Santiago acabará por vencer, para logo se ver derrotado. Com uma linguagem de grande simplicidade e força, Hemingway retrata nesta aventura poética a coragem humana perante as dificuldades e o triunfo alcançado apesar da perda. Comovente romance, obra-prima de maturidade de Hemingway, O Velho e o Mar recebeu o Prémio Pulitzer em 1953 e desempenhou um papel essencial na obtenção pelo seu autor, um ano mais tarde, do Prémio Nobel da Literatura. 

Opinião 

Ernest Hemingway, Nobel da Literatura, figurava há muito tempo na minha mente como um autor a ser lido, e O Velho e o Mar era a obra pela qual nutria maior curiosidade. 

Nesta pequena narrativa conhecemos Santiago, um velho pescador, que navega numa maré de azar estando há vários dias sem conseguir pescar nada. Até que finalmente um enorme peixe morde o isco e durante vários dias Salvador e o peixe debatem-se até haver um vencedor. Se acreditarmos que na vida há vencedores e vencidos. Mas será mesmo assim?

Hemingway fala-nos, nesta pequena aventura, da força humana perante a necessidade, da enorme solidão da velhice, do medo de vencermos e mesmo assim isso não ser suficiente e acabarmos apenas com o esqueleto das nossas vitórias. A vida é tão cheia de adversidades e de lutas para no final enfrentarmos a solidão, e todas as nossas as nossas conquistas perderem o valor inestimável que lhes tínhamos. O Velho e o Mar é assim um livro um pouco fatalista, que nos expõe uma visão com a qual podemos ou não concordar e podemos até lê-lo ignorando as entrelinhas e apreciando a simples luta de um velho pescador em alto mar. 

Um clássico que vale a pena ler.

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Uma Agulha no Palheiro (The Catcher in the Rye), J.D. Salinger

Sinopse

O livro conta as aventuras de Holden Caulfield, um rapaz de 16 anos, que ao ter de deixar o colégio interno que frequenta, mas receoso de enfrentar a fúria dos pais, decide passar uns dias em Nova Iorque até começarem as férias de Natal e poder voltar para casa.
Confuso, inseguro, incapaz de reconhecer a sua própria sensibilidade e fragilidade, Holden percorre nesses dias um intrincado labirinto de emoções e experiências, encontrando as mais diversas pessoas, como taxistas, freiras e prostitutas, e envolvendo-se em situações para as quais não está preparado. 
 
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Opinião

Uma agulha no palheiro, de J. D. Salinger, chegou até mim através de um passatempo da página Aleph - Livraria Alfarrabista. Confesso que até a esse momento desconhecia por completo este famoso clássico da literatura americana do século XX, que esteve envolto em várias polémicas, tendo sido inclusive banido das escolas, livrarias e bibliotecas dos EUA devido ao seu conteúdo pouco ortodoxo. Descobri também, durante a leitura, que este livro foi lido por alguns dos mais famosos assassinos da história, como Mark David Chapman, o assassino de John Lennon.

Uma agulha no palheiro, é um relato na primeira pessoa de um jovem da burguesia nova-iorquina que foi expulso da escola uns dias antes do Natal, e não tendo coragem para voltar para casa vagueia por Nova Iorque à procura de si mesmo. Holden Caulfield está profundamente deprimido e sozinho, a sua existência sofre com a dualidade de querer manter-se criança e viver na inocência e tornar-se adulto e perceber que o mundo é imperfeito e cheio de idiotas. Por um lado Caulfield é imaturo, não quer assumir as responsabilidades que vêm com a vida adulta, mas ao mesmo tempo fuma, bebe, idealiza relações sexuais. Caulfield vê na infância uma pureza que não é real e se estivermos atentos ao longo do livro são nos dadas varias pistas quanto a isso.

Ao longo da narrativa vamos percebendo os motivos deste sentimento de alienação, no fundo a indefinição da adolescência é maior para Caulfield pela bagagem que carrega consigo. O protagonista está tão cansado e deprimido que não vê as suas qualidades: é generoso, é sensível, é inteligente, apesar de ser preguiçoso – como ele próprio diz é praticamente iletrado, embora leia muito – e tem uma grande capacidade de amar o que nos é mostrado pela sua ligação com a sua irmã Phoebe.

O título em português não faz sentido, The Catcher in the Rye, o título original, está relacionado com uma parte específica e importante da obra, e que nos mostra o medo do protagonista em se tornar adulto. Pelo que se tiverem oportunidade leiam este livro na sua língua original ou tenham em mente o título na língua inglesa.

Este é um livro profundamente triste, é uma viagem que nos cansa, e a partir do momento que empatizamos com Holden Caulfield sentimo-nos tão sozinhos como ele nas frias ruas de Nova Iorque, com a mesma vontade de chorar, de beber, de vomitar.

Um grande livro, um grande clássico! 
 

 

sábado, 27 de março de 2021

1984, George Orwell

Sinopse

Winston Smith é um homem com um ofício peculiar: enquanto funcionário do Ministério da Verdade, corrige documentos. Ou melhor, reescreve a história a fim de legitimar o Partido que governa Londres, peça-chave do superestado da Oceânia. Diluída no nevoeiro, a cidade parece-lhe mais cinzenta agora, por baixo da vigilância permanente das câmaras e do olhar penetrante das imagens do Grande Irmão. Embora todos os seus movimentos sejam monitorizados, Winston inicia um relacionamento secreto com Julia. Mil Novecentos e Oitenta e Quatro é o mundo distópico que Orwell viu aproximar-se no final dos seus dias, tornando-se a sua última obra publicada em vida. Nela imprimiu a sensação incómoda de que vivemos sob a influência de um olho que tudo vê – e de que urge defender a ideia de um mundo politicamente livre, intelectualmente livre. 

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Opinião

Começo por agradecer à Porto Editora por se ter juntado ao meu projecto #12meses12clássicos e gentilmente me ter cedido um exemplar de 1984, de George Orwell, para partilhar convosco a minha opinião.

1984 não foi de todo o que eu estava à espera. Não constituiu uma má leitura, mas sinto que é um livro mal categorizado enquanto romance distópico. Para mim faz muito mais sentido olhar para ele como um ensaio, passando a distopia e as suas personagens para segundo plano, porque enquanto distopia carece de velocidade e enquanto romance, exceptuando o protagonista, todas as demais personagens são de uma densidade parca, o que no seu conjunto torna a leitura aborrecida.

Feito este parêntesis, 1984 tem o seu mérito e merece ser lido pela sua importância política e por tudo aquilo que o tornou num clássico.

Winston Smith, o protagonista, vive numa sociedade em que não há liberdade individual, todos os movimentos e pensamentos são controlados, o passado é reescrito à medida que se torna necessário que ele esteja de acordo com os desígnios do partido, o Grande Irmão é omnipresente e a figura máxima deste regime totalitário e opressor, capaz até de aniquilar as conexões humanas, mesmo aquelas entre pais e filhos. Existe inclusive uma novafala, cada vez com menos palavras, para que as pessoas percam a capacidade de poder sequer ter pensamentos mais elaborados.

1984 mostra-nos um mundo em que o totalitarismo que Orwell conheceu venceu e aprimorou-se, faz-nos lembrar desses regimes do passado e ao mesmo tempo faz-nos pensar no presente em que somos escravos das tecnologias.

1984 é um livro de leitura difícil, é difícil entrarmos na narrativa e depois é difícil aceitarmos as atrocidades de que passamos a ser testemunhas, e é ainda mais difícil por ser um abismo sem qualquer mensagem de esperança.

Não posso deixar de o recomendar, porque é um livro acima de tudo necessário, porque o passado não pode ser esquecido, e valores como a liberdade e a igualdade tem de ser sempre as nossas utopias. 
 

 

sábado, 15 de junho de 2019

Opinião "O Estrangeiro", de Albert Camus

Sinopse


Meursault recebe um telegrama: a mãe morreu. De regresso a casa após o funeral, enceta amizade com um vizinho de práticas duvidosas, reencontra uma antiga colega de trabalho com quem se envolve, vai à praia - até que ocorre um homicídio. Romance estranho, desconcertante sob uma aparente singeleza estilística, em O Estrangeiro joga-se o destino de um homem perante o absurdo e questiona-se o sentido da existência. Publicado originalmente em 1942, este primeiro romance de Albert Camus foi traduzido em mais de quarenta línguas e adaptado para o cinema por Luchino Visconti em 1967, sendo indubitavelmente uma das obras-primas da literatura francesa do século XX.


Opinião


Aquando da ida à Feira do Livro de Lisboa, o ano passado, deixei-me cair em tentação, e, entre outros livros a preços apetitosos, trouxe um exemplar de O Estrangeiro, de Albert Camus. Já havia, naturalmente, ouvido falar deste nome, ou não fosse ele um Prémio Nobel da Literatura e uma incontornável referência na Filosofia emergida no século passado. 

Comecei esta leitura sem nenhumas expectativas e sem sequer ter lido a sinopse da obra. Sabia porém tratar-se de um ensaio filosófico mais do que um romance banal. E a verdade é que esta obra deve ser lida partindo desse pressuposto, ou correm o risco de não perceber onde se encontra a genialidade numa história, que lida sem atenção às entrelinhas, não passa de um relato de um caso insólito. 

Já enquanto ensaio filosófico, Camus expõe em O Estrangeiro a sua complexa teoria do absurdo que, por oposição ao existencialismo, aceita que a vida seja desprovida de sentido e que face à angústia dessa revelação devemos aceitá-la, aproveitando a felicidade das pequenas coisas. 

Camus apresenta-nos Meursault, um homem que recebe com indiferença a notícia da morte da mãe, que parece viver apenas das sensações, distante, estrangeiro ao mundo que o rodeia. Após o funeral da mãe o protagonista envolve-se amorosamente com Marie e inicia uma amizade com um vizinho duvidoso. Num dia de sol (e talvez por causa do sol), num passeio pela praia, Meursault comete um homicídio e é condenado à morte. A partir daí o seu julgamento toma conta das restantes páginas levando-nos numa viagem por uma das questões mais importantes do existencialismo, e em última análise, da Filosofia, diante do derradeiro fim será Deus a resposta e o sentido último? Ou é Deus uma ilusão para nos esquivarmos a aceitar a condição absurda de existir? 

Para mim mais do que tentar responder a essas questões, Camus tem consciência da impossibilidade de vivermos no nosso mundo de mãos dadas com o absurdismo, diariamente somos postos à prova, colocados face a desafios, projectos e prazos, queremos ser, queremos fazer, queremos chegar, queremos dar sentido. 

Na vertigem dos dias comuns não há tempo para aceitar que as nossas conquistas são trivialidades de uma ausência de sentido universal e que deveríamos, ao invés, aproveitar o calor do sol, a brisa do mar e o suor dos corpos. Mas viver movidos por impulso, indiferentes, tornar-nos-ia agressivos e insensíveis aos olhos de um mundo de falsos existencialismos, seriamos condenados ao mesmo fim que Meursault.

Se ficam atormentados e inquietos em pensar nestas questões O Estrangeiro não é um livro que faça falta nas vossas estantes. No meu caso, que me vejo muitas vezes em conflito com o desconcerto do mundo, fiquei tentada a abrigar na minha biblioteca as restantes publicações de Albert Camus.