quarta-feira, 17 de maio de 2017

Opinião "Objectos Cortantes", Gillian Flynn

Sinopse

'Recém-chegada de um internamento breve num hospital psiquiátrico, Camille Preaker tem um trabalho difícil entre mãos. O jornal onde trabalha envia-a para a cidade onde foi criada com o intuito de fazer a cobertura de um caso de homicídio de duas raparigas. Há anos que Camille mal fala com a mãe, um mulher neurótica e hipocondríaca, e quase nem conhece a meia-irmã, uma bela rapariga de treze anos que exerce um estranho fascínio sobre a cidade. Agora, instalada no seu antigo quarto na mansão vitoriana da família, Camille dá por si a identificar-se com as vítimas. As suas pistas não a conduzem a lado algum e Camille vê-se obrigada a desvendar o quebra-cabeças psicológico do seu passado para chegar ao cerne da história. Acossada pelos seus próprios fantasmas, terá de confrontar o que lhe aconteceu anos antes se quiser sobreviver a este regresso a casa.' - in Goodreads


 


Opinião

Ando numa onda de livros que, intencionalmente ou não, abordam questões relacionadas com saúde mental. Com este em particular, sinto a necessidade de fazer um aviso prévio ao potencial leitor, que pode passar despercebido à leitura da sinopse (apesar de o título já ser, por si, muito sugestivo). Sharp Objects lida com temáticas de autolesão que podem despoletar sentimentos mais fortes em pessoas com este tipo de problemas. 

Passemos então à minha opinião!

Já tinha lido um dos livros de Gillian Flynn - Gone Girl, ou Em Parte Incerta, que deu origem ao filme homónimo. E se já tinha gostado muito dessa leitura, do estilo de Flynn e da sua capacidade de prender o leitor às páginas em busca de pistas para resolver o mistério, posso dizer que adorei Objectos Cortantes. A história é macabra, revoltante, transgressiva, e é precisamente isso que me mais me atraiu.

Camille Preaker é uma mulher "arruinada", como a própria se descreve. A morte da sua irmã na infância marcou-a de mais do que uma maneira, que nunca conseguiu ultrapassar. Repórter medíocre, mas dedicada às pessoas sobre as quais escreve, o seu editor manda-a numa missão que Camille encara como martírio. Tem de voltar à sua pequena e bucólica cidade natal e voltar a enfrentar, mais do que apenas as mentes fechadas dos seus antigos amigos, o fosso profundo que a separa da sua mãe.

O que começa apenas como um apurar de factos quase irreflectido vai-se tornando numa verdadeira investigação da parte de Camille. A sua busca pelo que eram meninas assassinadas acaba por se confundir com a sua busca pelo que foi (ou não foi) a sua infância. E, apesar de Camille ser uma narradora fiável (ao contrário de Amy), não conseguimos deixar de sentir que mais ninguém à sua volta o é - e perdemo-nos no enredo com ela.

Há um punhado de personagens verdadeiramente interessantes, genuínas nas suas imperfeições. Posso dizer que um dos únicos aspectos menos positivos que tenho a apontar à obra é o facto de as outras, secundárias, se revelarem algo monótonas, ou pouco profundas, no sentido em que quase são caricaturas do que imaginamos serem os habitantes de uma pequena cidade de um estado do Sul da América.

O ritmo de escrita é soberbo. Lembrei-me muitas vezes de um dos meus autores preferidos, Chuck Palahniuk, pelo encadeamento de uma espécie de "refrão" que se repete ao longo da obra, pelas personagens antagonistas femininas, tão bizarras como fascinantes, e pelo facto de ter gostado mais do primeiro livro do autor, menos conhecido, em detrimento daquele que teve mais sucesso.

Aconselho Objectos Cortantes a todos aqueles que gostam de um bom mistério, com um final deveras surpreendente, mas com elementos transgressivos que revolvem nas entranhas do leitor ao longo do livro.


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