Sinopse
Um dia acorda e pensa recordar-se de ter esfaqueado o detestável vizinho. Nesse mesmo dia é abordado por dois homens de aspeto duvidoso que lhe batem e anunciam que mais tarde o vão procurar a casa. E como se não bastasse de acontecimentos insólitos, Gabi materializa-se numa visita inesperada.
O que se vai passar - numa ação que transita livremente entre dois planos ficcionais, já que Mário também trabalha na escrita de um conto - é totalmente inesperado: talvez uma alucinação de Mário ou do leitor; uma sequência de acontecimentos próprios de uma zona socialmente problemática; um complot urdido não se sabe onde. E para Mário, haverá salvação?
Uma coisa é certa: neste primeiro romance de Filipe Nunes Vicente - rápido, cru, livre de espartilhos formais e cheio de referentes cinematográficos, literários e filosóficos - nada é o que parece.
Opinião
Fui à minha estante escolher mais uma leitura para o projecto #lerosnossos da booktuber A Mulher que Ama Livros e trouxe este Mau-Mau, de Filipe Nunes Vicente. Gosto destes projectos porque são uma motivação para ler livros que estão a ser soterrados por pó nas estantes!
Mau-Mau é um livro mais que estranho, é completamente alucinado. Mas conseguiu prender-me até ao fim, pela minha necessidade de perceber alguma coisa desta leitura e saber como seria o final desta tramoia.
Por isso, dei-lhe duas estrelas e não uma, foi possível não desistir da leitura, mas esta não foi boa o suficiente para chegar às três estrelas, principalmente porque o autor passou por cima e repisou todas as noções de pontuação, olvidando-se do uso da vírgula! Uma coisa é sermos Saramago, sabermos escrever maravilhosamente bem e brincarmos com as palavras e usarmos a pontuação a nosso favor, outra coisa é tentarmos ser únicos através do erro. A falta de pontuação tornou a leitura um suplício em alguns momentos e algumas frases ficaram incompreensíveis. Além disso, num livro tão pequeno, o autor põe tantas referências, que só me apetecia dizer-lhe “ok já percebemos que é uma pessoa culta”.
Em relação à narrativa em si, temos Mário como protagonista, um homem que teve em tempos uma vida perfeita, mulher, filhos, um emprego estável. No entanto, vive agora num bairro decadente, onde as taxas de criminalidade, brutalidade e tráfico de droga estão nos píncaros. Mário dedica-se a escrever uma espécie de estudo sobre as drogas, enquanto vai morrendo de cancro e criticando tudo à sua volta.
Um dia acorda e não sabe se esfaqueou o seu vizinho e a partir daí vê-se no centro de uma espiral de acontecimentos desconexos, mas que no seu conjunto não auguram nada de bom para este protagonista, com o qual é muito difícil empatizar.
Mário é enfadonho e ressabiado e descreve as pessoas sempre da pior forma possível, a título de exemplo: “Peço um fino à rapariga tem graça nunca cá a vi. É uma cadela magra com o cabelo em viagem do preto para o ruivo e nariz de esquilo.”
Não temos de gostar do protagonista para o livro ser bom, neste caso Mário ser uma personagem meio detestável até foi uma mais-valia, é como se ele fosse a representação do ódio e da revolta que nasce com a desestruturarão da sociedade e com as desigualdades.
Mau-Mau é um livro cru, desumanizado, uma lente de aumento sobre o pior do pior que temos enquanto sociedade.
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