sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Opinião "O Escritor e o Prisioneiro", Rute Simões Ribeiro


Sinopse


O Escritor e o Prisioneiro é a terceira obra publicada de Rute Simões Ribeiro, sucedendo aos romances Ensaio sobre o Dever (Ou a Manifestação da Vontade) (Finalista do Prémio LeYa 2015, sob o título Os Cegos e os Surdos) e A Alegria de Ser Miserável.

Assumindo a forma de um conto que se situa entre a narrativa e a dramaturgia, O Escritor e o Prisioneiro trata do conflito interno de um prisioneiro chamado Tom perante o seu médico psiquiatra, a quem solicita ajuda, por desconfiar da sua própria lucidez. Através de um quasi-monólogo, Tom narra os eventos que ocorreram dentro da prisão, ao mesmo tempo que confessa os questionamentos e as dúvidas que esses acontecimentos provocaram nele. Nesta exposição, fala obsessivamente de Otto, um escritor prisioneiro, que o agita e será talvez o causador dessa possível loucura, que procura esclarecer numa conversa onde se confundem intenções e identidades.

Opinião

Depois de ter lido e adorado o Ensaio sobre o Dever (Ou a Manifestação da Vontade), de Rute Simões Ribeiro, fiquei com imensa vontade de ler tudo o que esta autora viesse a escrever. E a verdade é que estou em falta para com a Rute, que amavelmente me enviou a sua segunda obra, A Alegria de Ser Miserável, e que eu ainda não tive oportunidade de ler. 

Mas deu-se o acaso de O Escritor e o Prisioneiro, a sua mais recente criação, ter ficado disponível na Amazon no formato de ebook num dia em que eu precisava de me entreter e só tinha disponível o meu pouco-smart phone. 

O Escritor e o Prisioneiro apresenta-se-nos como uma espécie de pitoresco conto e leva-nos numa intimista conversa entre enigmáticas personagens. Um prisioneiro chamado Tom procura um psiquiatra por acreditar estar louco ou na eminência de perder a pouca lucidez que lhe resta, e vai partilhando com o seu médico eventos que tiveram lugar no seu tempo de clausura. Destaca-se nos seus relatos uma presença, Otto, um escritor, que ele desconfia ser o principal motivo da sua alienação. 

Rute torna-nos a nós, leitores, espectadores atentos de um estranho diálogo, e que pela sua estranheza nos prende numa leitura que é rápida e interessante, mas que, na minha perspectiva, se perde num final deixado demasiado em aberto. O Escritor e o Prisioneiro parece-me uma ideia (brilhante!) inacabada, queria saber mais destes personagens, mais do que se passou no cárcere. 

E ainda que o mistério em absoluto possa ser o propósito da autora e eu consiga interpretar e encontrar razões para isso gostava genuinamente de poder ler mais uns quantos capítulos. Acredito que Rute Simões Ribeiro levanta ao de leve questões sobre a reabilitação após os erros, sobre os recomeços, faz-nos pensar como por vezes somos a nossa própria prisão, como são tantas as versões de nós mesmos que vamos experimentando consoante as vicissitudes da vida, como quem muda de casaco ao virar da estação. 

A escrita de Rute mantém-se cuidada e de exemplar perfeição, coberta ainda das influências saramagueanas, porém dispensava por completo uma espécies de didascálias que foram introduzidas pelo texto e que a meu ver em nada o enriqueceram. 

O Escritor e o Prisioneiro não deixa de ser uma boa companhia para uma café, ainda que não alcançando a genialidade do primogénito de Rute Simões Ribeiro.



Podem ler a minha opinião do Ensaio sobre o Dever (Ou a Manifestação da Vontade) Aqui

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