É fácil despir alguém. Saber
abrir botões e correr fechos não implica arte nem engenho que pudesse impedir
alguém dos seus propósitos. Mesmo as mais complicadas peças de indumentária
poderão ser rasgadas ou arrancadas se a impaciência do Despidor for maior que a
sua perícia. Não, não negarei a beleza de um corpo nu, mas permitam-me
enaltecer o assombro de ver uma alma coberta de nada.
Não há fechos, não há botões,
ninguém sabe como começar. Arrancar? O quê? Um segredo, uma confissão, um passado?
Rasgar? O quê? Um sonho, um desejo?
Também não se pode pedir a alguém
que nos mostre como é de verdade. Uma alma que se nos mostra na maior das
transparências só o faz quando possui a certeza de que seremos capazes de
aguentar o belo e o monstro que nela habitam.
As roupas caídas no chão poderão
sempre voltar ao seu dono e cobrir um corpo que poderá até ser esquecido aos
olhos de quem o contemplou com tanto desejo. Uma alma nua não mais poderá
esconder-se. Por isso, se um dia olharem para alguém e virem mais do que
pensavam ser possível existir noutro ser humano alegrem-se porque terão
descoberto a essência do amor.
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