terça-feira, 29 de abril de 2014

O Despidor


É fácil despir alguém. Saber abrir botões e correr fechos não implica arte nem engenho que pudesse impedir alguém dos seus propósitos. Mesmo as mais complicadas peças de indumentária poderão ser rasgadas ou arrancadas se a impaciência do Despidor for maior que a sua perícia. Não, não negarei a beleza de um corpo nu, mas permitam-me enaltecer o assombro de ver uma alma coberta de nada.

Não há fechos, não há botões, ninguém sabe como começar. Arrancar? O quê? Um segredo, uma confissão, um passado? Rasgar? O quê? Um sonho, um desejo?

Também não se pode pedir a alguém que nos mostre como é de verdade. Uma alma que se nos mostra na maior das transparências só o faz quando possui a certeza de que seremos capazes de aguentar o belo e o monstro que nela habitam.

As roupas caídas no chão poderão sempre voltar ao seu dono e cobrir um corpo que poderá até ser esquecido aos olhos de quem o contemplou com tanto desejo. Uma alma nua não mais poderá esconder-se. Por isso, se um dia olharem para alguém e virem mais do que pensavam ser possível existir noutro ser humano alegrem-se porque terão descoberto a essência do amor.




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