quinta-feira, 1 de maio de 2014

Opinião - "Insurgente", Veronica Roth

Sinopse

“A tua escolha pode transformar-te - ou destruir-te. Mas qualquer escolha implica consequências, e à medida que as várias fações começam a insurgir-se, Tris Prior precisa de continuar a lutar pelos que ama - e por ela própria. O dia da iniciação de Tris devia ter sido marcado pela celebração com a fação escolhida. No entanto, o dia termina da pior forma possível. À medida que o conflito entre as diferentes fações e as ideologias de cada uma se agita, a guerra parece ser inevitável. Escolher é cada vez mais incontornável... e fatal. Transformada pelas próprias decisões mas ainda assombrada pela dor e pela culpa, Tris terá de aceitar em pleno o seu estatuto de Divergente, mesmo que não compreenda completamente o que poderá vir a perder. 

A muito esperada continuação da saga Divergente volta a impressionar os fãs, com um enredo pleno de reviravoltas, romance e desilusões amorosas, e uma maravilhosa reflexão sobre a natureza humana.”



Opinião

Tal como no primeiro livro desta trilogia, este segundo volume avança de uma forma viciante, num ritmo acelerado, há sempre algo a acontecer, há sempre alguém a tomar as rédeas e a delinear os seus planos. Ainda assim, é mais introspectivo e há um ambiente de conspiração que transcende as páginas do livro e nos deixa verdadeiramente ansiosos pelo que vai acontecer.

Tris vê-se agora mergulhada no desespero e na constante dúvida do valor da sua vida face aos actos que cometeu e que vê como imperdoáveis. Perseguida pela culpa da morte de Will, pelo olhar inquisidor de Christina e assombrada pela ausência dos pais, Tris amadurece e a ênfase que neste livro é dada aos seus sentimentos dá-nos a clara percepção disso.

Para minha surpresa, Tris, que em Divergente me parecia pouco genuína para heroína da história, mostra-se agora possuidora de sentimentos verdadeiros, faz escolhas difíceis mas acertadas, às vezes sem grande fundamento mas confiando na sua intuição e acreditando mais naquilo que é do que naquilo que sabe. E, apesar de não ter sido considerada apta a pertencer também aos Cândidos, a sua busca pela verdade é admirável. Fiquei, de facto, orgulhosa da pequena Beatrice Prior, agora assassina e órfã, mas segura e orgulhosamente Abnegada, Intrépida, Erudita, Divergente.

Por outro lado, Quatro desiludiu-me. Questionei-me várias vezes sobre o seu discernimento ou mais especificamente a falta dele! Em Divergente, Quatro havia-se mostrado misterioso, com um lado que tanto fascinava como enfurecia, por ser carinhoso, protector, sensível e simultaneamente rude e distante. Duplicidade que era facilmente justificável pela sua tentativa de proteger quem realmente era e esconder as suas fraquezas. Agora apresenta-se-nos como alguém agressivo e arrogante, mentalmente frágil, influenciável, facilmente manipulável, com escassos laivos de lucidez e com ligeiros traços de bipolaridade, que posso aceitar que se possam ter manifestado por incapacidade de lidar com as sombras do passado. Desculpem a possível agressividade, mas é o mal de estendermos a mão a uma personagem e darmos-lhe, com isso, vida, quando ela nos desilude levamos a peito!

Quanto a Tris e Quatro juntos, a cumplicidade entre eles caminha lado a lado com as falhas de comunicação, com as dúvidas, com a falta de confiança. Mas, a verdade é que a segurança do aconchego um do outro era para ambos um porto seguro, mesmo quando não o queriam admitir, denotando-se um certo orgulho de ambas as partes que chegava a ser divertido.

Várias personagens me surpreenderam, não como uma agradável surpresa, mas porque se mostraram traidores improváveis e aliados ainda mais improváveis, com motivações incoerentes e ilógicas. Talvez tenha sido uma tentativa de mostrar que as pessoas nem sempre são o que parecem e que não são exclusivamente boas ou más. Tentativa fracassada porque as personagens agiam de forma que não se coadunava com a personalidade criada no livro anterior. São evidentes mudanças tão abruptas que não podem ser encaradas como uma evolução, mas como uma contradição ou uma altamente improvável e súbita mudança de carácter. Em suma, uma inconsistência que torna as personagens irreconhecíveis.

Para evitar spoilers abstenho-me de falar do final dizendo apenas que não cumpriu em pleno as minhas expectativas, mas também ainda não decidi se o tolero ou se o odeio, pelo que esta indecisão pode ser sinal de bom prognóstico. Desprovido de sentido ou se há possibilidade de união harmoniosa das pontas soltas no Convergente é a minha grande motivação para continuar presa a esta aventura.

Posso-me ter focado em demasia nos aspectos negativos, por isso quero frisar que foi uma leitura agradável, envolvente, com um enredo rico, que cumpre na perfeição o propósito do entretenimento. A escrita mantém-se simples, fluída, havendo algo de inebriante que não nos deixa parar de ler.

Insurgente leva-nos a pensar que é humano duvidar, que é humano errar, que as pessoas são movidas por diversos ideais, pelo que são e pelo que a sociedade fez delas, que os segredos podem ser fracturantes, que não é inteligente menosprezar as minorias, porque basta que se reúnam as condições certas para que surja uma maioria de minorias que apaziguaram os seus conflitos para combater um inimigo em comum. Na parte bélica desta história salta à vista o quão facilmente, no calor da guerra, agimos em espelho, como os inocentes do outro lado da barricada não nos parecem tão inocentes como os nossos inocentes caídos no chão.

Insurgente trás em si a mensagem da coragem e da generosidade do perdão, da descoberta do amor e do valor da verdade. E deixa-nos acreditar que talvez a culpa e o perdão sejam as faces da mesma moeda e só precisamos que alguém a lance ao ar mais uma vez.




Sem comentários :

Enviar um comentário