Sinopse
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Formato: E-book
Edição: Abril de 2013
Páginas: 430
ISBN: 9789897660
Goodreads: mais informação aqui.
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Vivem-se os anos mais negros da
Segunda Guerra Mundial, e a vida brilha com a força e a fragilidade de uma
chama ao vento. Na Lisboa de espiões e fugitivos dos anos 40, João Lopes
apresenta à sua amiga Carmo um estrangeiro mais velho, homem de segredos e
intenções obscuras que depressa a seduz, atraindo os dois jovens para uma teia
de mistérios e paixões de consequências imprevistas.
Anos volvidos, Francisco,
jornalista, homem inquieto, pouco sabe de si próprio e menos ainda de Carmo, a
avó silenciosa que o criou, chama apagada de outros tempos. É João Lopes quem
promete trazer-lhe a sua história inesperada, história da família e dos
passados perdidos nos tempos revoltos da Segunda Grande Guerra e da Revolução
de Abril. Para João, é uma história há muito devida. Para Francisco, o derrubar
dos muros que ergueu em torno da memória e da própria vida.
Um retrato íntimo de Portugal em
três gerações, pela talentosa escritora de Alma Rebelde."
Opinião
Tal como o passado de Francisco o
encontrou, sinto que foi este livro que me encontrou a mim, e não o contrário.
Por um lado, é uma obra que reúne muitas das características que prezo nos
livros. Por outro, A Chama Ao Vento foi-nos gentilmente cedido pela sua autora,
e decidi entregar-me à sua leitura sem ler sequer a sinopse – o que,
incidentalmente, é algo que tenho de começar a fazer mais vezes, quando me
recomendam bons livros que não conheço, pois a partida ao desconhecido num
livro é deliciosa.
Foi precisamente o que senti ao
ler as primeiras páginas. A introdução atinge-nos com um baque, sendo no
entanto deixada em suspenso, e deixando o leitor imediatamente intrigado.
Avançamos então para a viagem que despoleta uma crise na vida de Francisco, o
nosso narrador. Descobrimos ao mesmo tempo que ele aquilo que ignorava há
demasiado tempo, e subitamente a introdução já não tem assim tanta importância.
Francisco consegue ser por vezes
exasperante, especialmente pelas suas acções, mas evoca empatia em quem
acompanha o que lhe vai na alma. Foi-me impossível ignorar o aperto atrás do
esterno e, por vezes, conter as lágrimas, quando recordava os dramas de outrora vistos pelas lentes turvadas de inocência da infância. O leitor é levado,
quase sem se aperceber, na viagem pelo passado e simultaneamente pelo interior
do narrador – que é também apanhado de surpresa.
João Lopes é também uma
personagem deveras interessante. Aquele que podia ser apenas um espectador na
história principal, personagem secundária e mero veículo de informação,
torna-se num dos principais intervenientes do que tem para contar a Francisco –
não fossemos todos protagonistas da nossa própria história. João é-nos
apresentado como alguém corajoso, sensato (para a sua idade), altruísta e,
sobretudo, íntegro. A parte mais céptica de mim por vezes questionava esta
integridade – o que Francisco vocalizava com bastante mais à vontade que eu –
mas se há algo que prezo é que a existência de pessoas verdadeiramente
incorruptíveis não é um mito, e que, consequentemente, cada um de nós o pode ambicionar.
Carmo é difícil de perceber, ao
início. Tive sentimentos contraditórios quanto a ela. Desde a incompreensão da
sua frieza à ternura da sua inocência, temos de ler nas entrelinhas da história
de João e de Francisco aquilo por que esta mulher passou, até se tornar a
imagem do estoicismo que dá a conhecer. Gosto muito da reflexão que se faz
sobre a transformação da Carmo, menina, em Carmo, mãe e avó, uma sombra daquilo
que era ou que sonhou ser. Levou-me verdadeiramente a pensar nas histórias e
aventuras guardadas nas personagens secundárias da nossa vida, que tanto
estimamos, mas a quem por vezes não prestamos a atenção devida.
A acrescentar a um belo leque de
personagens, a autora faz uma descrição muito clara da época, dos lugares e
costumes, e consegue transmitir-nos alguma da inquietude disfarçada que pairava
no ar. Desconhecia que Lisboa tivesse sido refúgio de tantas vítimas da Segunda
Guerra Mundial – reconheço que História nunca foi a minha melhor disciplina –,
mas consola-me em certa medida saber que possa ter sido um ponto de partida
para uma nova vida, mesmo que marcada pelas atrocidades vividas. Todos os
relatos desse tempo me fazem lembrar do sofrimento dessas pessoas, tão reais
como eu me sinto, o que me impele a tentar fazer do mundo (o que eu alcanço,
pelo menos), um lugar melhor.
(Por muito que se Francisco se
queixasse, não me importei minimamente com a tendência do Sr. Lopes para fugir
da narrativa para a lição de História!)
A componente de mistério é também
muito importante na obra, e a autora consegue manter o leitor interessado
(apesar de considerar que, para o leitor perspicaz, um dos mistérios é
deduzível).
Um factor que me agrada
sobejamente, e que não está presente na maior parte das obras que leio, por
muito que goste delas, é o facto de as personagens falarem e pensarem como eu
falo e penso. Por vezes dou por mim a ler edições portuguesas de livros de
autores estrangeiros e a retraduzi-los mentalmente – para citar Manuela
Azevedo, A língua inglesa fica sempre bem
/ E nunca atraiçoa ninguém. Esta obra serviu para me lembrar do prazer de
ler na minha língua.
Como aspecto menos positivo, devo
dizer que houve uma parte da história que senti ter ficado inacabada. Não o
considero um defeito do livro ou da história per se, acredito que a autora
tenha deixado a história exactamente onde queria e o final apraz-me; no
entanto, gostaria de ter acompanhado Francisco na (re)descoberta de outras
personagens específicas da sua história.
Para finalizar, é uma obra muito
bonita, uma reflexão sobre a passagem do tempo e de várias gerações por este, e
um testemunho sobre o quanto o nosso comportamento é moldado tanto pela nossa
chama intrínseca, como pelos ventos que por ela passam e que a podem apagar, ou
atiçar.
Viva,
ResponderEliminarBelo comentário e pelo que percebo um livro que vale bem a pena ser lido, fica a sugestão :)
E parabens por divulgares o que é nacional :)
Bjs e boas leituras
Olá Fiacha,
EliminarObrigada! É mais uma prova de que a literatura nacional vale mesmo a pena. Como já deu para perceber, aconselho vivamente! (Mantém-te atento ao blogue, as oportunidades podem surgir ;) )
Boas viagens!
Bárbara
AMEI o livro! É viciante! E a autora uma simpatia :)
ResponderEliminarÉ mesmo, não consegui parar até acabar. A Carla foi fantástica :)
EliminarBoas viagens,
Bárbara