domingo, 27 de julho de 2014

Opinião - "A Casa Negra", Peter May

Edição: Março 2014
Páginas: 447
ISBN: 9789897540509
Goodreads: mais informação aqui.

Sinopse

"A Ilha de Lewis é o local mais desolador e austeramente belo de toda a Escócia. A rigidez da rotina diária apenas é mitigada pelo temor a Deus. Quando um assassinato sangrento cometido na ilha revela marcas semelhantes a um caso de Edimburgo, o detetive da polícia Fin Macleod é enviado para norte, para o investigar.

Todos os anos, doze homens da ilha, alguns dos quais amigos de infância de Fin, partem para um remoto e traiçoeiro rochedo chamado An Sgeir, numa perigosa epopeia para caçarem as crias de uma ave marinha local. Este é, acima de tudo, um ritual de passagem que é ferozmente defendido contra todos os pressupostos da moralidade moderna. Mas, para Fin, a caça encerra memórias dolorosas, que podem, mesmo tanto tempo depois, exigir um enorme sacrifício."


Opinião

Este livro foi-nos facultado pela Editora Marcador, à qual gostaria desde já de agradecer.

Este livro foi uma surpresa. A sinopse prometia um ambiente de mistério e ocultismo, e enquanto que o primeiro está efectivamente impregnado na narrativa (tanto que perdi algumas horas de sono por não conseguir parar de ler...), o segundo não marca presença, pelo menos não da maneira que esperava.

Conhecemos o pesadelo de Fin Macleod antes de conhecermos o próprio. Devido a um terrível acidente, a sua vida desmorona-se à sua volta. No entanto, é chamado pelo dever – e pelo seu chefe – a investigar um assassinato numa ilha à qual não esperava regressar, e ao mesmo tempo a revisitar os espaços e pessoas da sua infância.

Os capítulos alternam entre o presente, sendo narrados na terceira pessoa, e o passado, que nos é contado na primeira pessoa pelo próprio Fin. No início estranhei a mudança, mas ao longo da obra tornou-se muito natural. A sua voz vai-se alterando à medida que cresce, desde um rapazinho tímido até um adolescente inconformado. Vamos desconstruindo a história ao mesmo tempo que Fin, o que se revela muito satisfatório – confesso que gosto de ir fazendo o meu próprio trabalho de detective quando leio policiais, e dei por mim a formar conjecturas que me fizeram suster a respiração, até Fin as confirmar uns parágrafos ou páginas depois.

Um dos melhores e inesperados aspectos de “A Casa Negra” é a capacidade do autor de nos transportar para a Ilha de Lewis, pelas suas descrições tão simples como belas. Durante a leitura, na minha mente consegui visualizar sem esforço o horizonte cinzento e quase senti o vento frio no rosto. Mesmo An Sgeir, que é um pouco mais difícil de imaginar, houve algo nas palavras do autor que conseguiu transmitir a solidão e isolamento sentidos por Fin.

Para além disso, revemos nos habitantes de Lewis as nossas próprias gentes, os mais velhos agarrados à tradição e ao status quo, e os jovens desejosos por fugir para a ansiada “civilização”. Fin foi em tempos um destes jovens, e é muito interessante ler as suas reflexões acerca do que foi para ele partir, e do que é mais tarde regressar.

As blackhouses na Ilha de Lewis.

Outro dos pontos mais fortes é que nenhuma personagem é inerentemente boa ou má. São pessoas complexas, credíveis, que despertam mais ou menos empatia no leitor. Mesmo o mais mal amado rufia tem honra, e mesmo a mulher-anjo de Fin, Marsaili, tem os seus pecados. O próprio protagonista sofre com as memórias de tempos em que não se comportou como devia para com aqueles que eram importantes para si.

Fiquei muito curiosa em relação aos livros seguintes, pois a Ilha de Lewis é palco de mais dois livros de Peter May. Não só porque apreciei a escrita e o ambiente que pintou da ilha, mas também pelas pessoas que lá vivem e pelas suas histórias.

A Casa Negra” é um óptimo romance, não só para os fãs de policiais, mas também para aqueles que gostam de se perder em terras longínquas e inóspitas, e descobrir os mistérios que encerram.



6 comentários :

  1. Olá,

    Bom comentário fiquei bastante curioso e começo cada vez mais a ver bons comentários aos livros desta editora :)

    Nada como ver se vão ler os livros seguintes e se se confirma a qualidade que este tem.

    Bjs e boas viagens

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    1. Olá!

      Penso que ainda não estão editados em português, mas fiquei curiosíssima e espero que a Marcador os publique também!

      Esperamos ter em breve mais opiniões de livros desta editora. Temos visto alguns que parecem bastante interessantes :)

      Boas viagens,
      Bárbara

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  2. Não conhecia o livro, mas interessou-me. Gostei da tua opinião, fez-me querer ler esta obra. :)
    Beijinhos!
    *Mistery

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    1. Obrigada! Se és fã de mistérios, acho mesmo que vais gostar ;)

      Boas viagens,
      Bárbara

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  3. R: Vou adorar ler as tuas respostas!
    Desse livro de contos apenas me lembro mesmo do primeiro, por ser o meu favorito.
    Recomendo-te ambos! "A Rapariga que Roubava Livros" é um livro tocante e arrebatador e o "Quando o Cuco Chama", apesar de ainda não o ter acabado, é um livro absolutamente genial na forma como o enredo e as personagens estão construídas.
    Sim, é verdade, tenho um carinho muito especial por esse livro.
    Beijinhos!
    *Mistery

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  4. R: Também não conhecia o teu blogue e gostei!
    Fiquei curiosa com o livro. Parece-me ser interessante e gosto bastante do género :)

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