Edição: 2014
Páginas: 320
ISBN: 9789722352192
Goodreads: mais informação aqui.
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Sinopse
"Na Inglaterra dos nossos dias, bruxos e humanos vivem aparentemente integrados.
Na realidade, os bruxos têm a sua própria sociedade secreta, as suas regras e a
sua guerra, que divide os Bruxos Brancos, considerados «bons», e os Bruxos
Negros, odiados e perseguidos pelos Brancos. O herói, Nathan, é filho de uma
Bruxa Branca e de um Bruxo Negro e, portanto, considerado perigoso. Nathan é
constantemente vigiado pelo Conselho dos Bruxos Brancos desde que nasceu e aos
16 anos é encarcerado e treinado para matar. Mas Nathan sabe que tem de fugir
antes de completar 17 anos e a sua determinação é inabalável."
Half Bad é o romance de estreia de Sally Green e o primeiro volume de
uma nova trilogia do género fantástico aguardado por todo o mundo com grande
expectativa.
Opinião
À
data da escrita desta opinião, ainda me encontro em choque, embora não tanto
como quando acabei de ler o último capítulo deste livro e me apercebi que na
página seguinte, em vez da continuação da história, vinham os Agradecimentos.
Este
livro foi-me dado a conhecer há já algum tempo, e se nessa altura tivesse lido
a sinopse oficial, não sei se teria ficado tao interessada. O que me despertou
verdadeiramente a curiosidade foi um pequeno trecho do livro, que transcrevo na
esperança de também vos cativar (e porque é simplesmente delicioso).
"Depois de o Arran nascer a mãe e o pai não queriam ter mais filhos. Deram o berço, o carrinho de bebé e todas as coisas de bebé. Este bebé não é desejado e tem de dormir em cima de uma fronha, dentro de uma gaveta, vestido com um pijama velho e sujo que era do Arran. Ninguém compra brinquedos nem presentes para este bebé, porque toda a gente sabe que ele não é desejado. Ninguém oferece presentes nem flores nem chocolates à mãe, porque todos sabem que ela não queria este bebé. Ninguém quer um bebé como este. A mãe só recebe um cartão de felicitações, mas não diz «Parabéns».
Silêncio.
– Queres saber o que é que o cartão diz?
Abano a cabeça afirmativamente.
– Diz: «Mata‑o.»"
Nathan,
o protagonista da obra, apresenta-se como prisioneiro disciplinado, à parte dos
múltiplos planos para escapar à sua carcereira, que repetidamente falham, muito
pela mestria e impiedade daquela. Nada mais sabemos sobre ela, ao início, e em
boa verdade também navegamos no escuro em relação ao jovem, até que este se
propõe a contar-nos a sua história.
Voltamos
atrás no tempo com Nathan, que conta episódios da sua infância até chegar à situação
em que se encontra.
O
estilo de escrita é bastante bom, e a distribuição dos capítulos e subcapítulos
é muito inteligente. Há uma alternância entre primeira e segunda pessoa,
consoante Nathan salta entre presente e passado; no entanto, achei estas
transições muito naturais, e em nada dificultaram a compreensão da narrativa.
Quase nem damos por elas. No meio da narrativa, por vezes emocionalmente pesada,
a autora consegue instilar humor, principalmente na forma de ironia e sarcasmo,
o que me agrada bastante.
Quanto
à história em si, achei absolutamente fantástica (só batida pelas próprias
personagens). Pode, inicialmente, parecer a típica história dos bons contra os
maus, da criança oprimida devido às suas origens que se revolta contra o
sistema. E Nathan revolta-se – mas porque uma vida de abusos o leva a isso. Por
outro lado, o ser considerado diferente e, como tal, inferior, pela maior parte
da sociedade, não o torna no típico anti-herói que é incapaz de sentir empatia
e busca apenas vingança.
O
nosso protagonista demonstra-se por vezes impulsivo e até violento, com um
inquestionável apego ao seu lado negro, que move muito do que faz; ainda assim,
o seu sentido de moralidade nunca o abandona, e à medida que vemos Nathan
crescer compreendemos que as circunstâncias horríveis com que teve de lidar
moldaram a sua personalidade no sentido da justiça, e não do rancor e
crueldade.
Dentro
da família mais próxima de Nathan encontramos algumas das outras melhores
personagens. A sua avozinha (que raramente é referida com outro nome que não o
ternurento diminutivo) marcou-me pela sua incrível força e determinação, mesmo
após ter perdido a filha e ser obrigada a criar quatro crianças, uma das quais vista
pelos outros como uma praga. Mas a avozinha sempre amou os seus netos, nunca
deixando que o Conselho dos Bruxos Brancos ditasse cegamente a vida de Nathan,
apesar de sentir medo deles.
A
irmã mais velha de Nathan, Jessica, mostra-se uma criatura do mais cruel que
podemos imaginar, atormentando Nathan quando este é apenas uma criança. No
entanto, se enquadrarmos Jessica no meio em que vive (e poderia dizer o mesmo
acerca de muitas personagens), percebemos que a sua maldade aparentemente inata
é um produto da intolerância e preconceito que caracterizam a maior parte dos
Bruxos Brancos. Mas não há dúvida que Jessica ocupa um lugar especial no
coração de Nathan – o reservado para os ódios de morte. Espero que Jessica
continue a ser desenvolvida no próximo volume da série.
Como
antítese desta irmã maléfica, temos Arran, apenas dois anos mais velho que
Nathan. O amor fraternal que os une é simplesmente comovente. Arran não é uma
personagem que nos entusiasme, pelo menos para mim, mas é impossível de
ignorá-lo quando protege Nathan da injustiça que o rodeia e lhe serve de
bússola moral.
Tentando
não revelar demasiado, tenho de mencionar também Annalise, o amor proibido de
Nathan. Devo confessar que a bela rapariga não me arrebatou como o fez àquele;
Annalise é demasiado passiva, pelo menos até ao momento em que nos encontramos
na narrativa. Espero ver desenvolvimentos na continuação da saga.
Poderia
ainda falar de Ellen e Gabriel, personagens aparentemente secundárias mas que
ganham uma enorme importância (especialmente o último) para o protagonista. Tanto
um como o outro sofrem de algum tipo de discriminação, e acabam por criar uma
ligação com Nathan. Finalmente, não posso deixar de mencionar Celia, a tutora
de Nathan, a implacável carcereira, que se revelou uma das surpresas da história,
ao provar que praticar actos maus é diferente de ser uma má pessoa.
Em
relação ao mundo fantástico em que decorre a história, gostei da forma como foi
naturalmente sendo revelado, sem haver necessidade de grandes explicações
formais. Parece-me muito bem pensado e deveras interessante. A Cerimónia da
Dádiva é um momento particularmente belo, mesmo que algo macabro.
Senti,
ao ler o livro, uma grande empatia para com Nathan, mesmo nos seus piores
momentos. O preconceito é um sentimento muito forte, que leva humanos (neste
caso, Bruxos) a odiar outros humanos simplesmente pelo facto de existirem e
serem diferentes, quando é esta diferença que nos caracteriza enquanto espécie.
Através do extremo deste preconceito, a autora mostra-nos a tolerância, e de
como é vital para nós. Se um grupo inteiro paga pelos pecados de alguns, então perdemos
a compaixão e justiça que acompanham a nossa racionalidade, e passamos a ser um
pouco menos humanos – tornamo-nos exactamente naquilo que nos causa repulsa.
Tenho que ler, parece ser espectacular :D
ResponderEliminarOlá Patrícia!
EliminarÉ mesmo, é neste momento um dos meus livros fantásticos favoritos! Aconselho :)
Boas viagens,
Bárbara
Ois,
ResponderEliminarUm livro que me passava completamente ao lado, fica registada a recomendação, tem tudo o que gosto nos livros ;)
Parabens pelo excelente comentário :)
Bjs e boas viagens
Olá Fiacha!
EliminarObrigada! Ao início estava com alguma dificuldade em escrever, porque gostei tanto do livro que não sabia como o transmitir! É mesmo uma pérola escondida, que também encontrei por acaso.
Fico contente por teres gostado da sugestão ;)
Boas viagens,
Bárbara