Após ler este conto integral no blog Crónicas de uma Leitora, não poderíamos deixar de o partilhar convosco!
O homem contemplou os vitrais. Iluminadas a espasmos pelos clarões, as janelas brilhavam, sublimes, repletas de vida, matizadas por uma profusão de cores vívida e única. Oriundo do exterior, um barulho ensurdecedor ecoou dentro da pequena igreja. E a chuva começou a cair. Ténue e delicada, primeiro. Pesada, depois. Constante, ausente de vento, uma cortina de água persistente que rapidamente se fechou em torno da capela e a inundou até ao limiar da escuridão.
Confortado pela sinfonia lúgubre que se abatia sobre o velho telhado, o padre João compôs a sotaina, abandonou a sacristia, e dirigiu-se ao altar. De rosto jovem e sonhador, benzeu-se e sorriu, comedido, maravilhado pelo que observava. Velado de perto por um tímido coro de velas, um brilho singular a revesti-lo, o corpo de Cristo crucificado resplandecia, simultaneamente triste e belo.
Comovido, o pároco ajoelhou-se e rendeu-se a um momento de introspeção. Fechou os olhos e orou. Pediu não para os familiares ou os demais que dele precisavam, mas para ele. Para que Ele lhe desse forças que lhe permitissem continuar a lutar, levar ao fim a sua missão.
Mais sereno, respirou fundo e levantou-se. Muito havia ainda para fazer. Estava na hora de preparar a igreja para a cerimónia que se aproximava. Uma criança diferente trouxe luz ao mundo numa noite ancestral como aquela. E dentro em breve, famílias inteiras unir-se-iam a ele, para juntos, celebrarem o nascimento de uma vida marcada pela abnegação. Ou assim ele o esperava...
João usou um castiçal e começou a acender as velas. De frente para Jesus, iluminou as maiores, quase da sua altura, e prosseguiu com as restantes, num trabalho contínuo e cada vez mais abrangente. Os candeeiros teriam de aguardar. A paróquia debatia-se com dificuldades. Ele próprio preferia assim, na verdade. Aquele era o seu santuário. E era lindo, a meia-luz, abençoado pela força de uma tempestade.
Confortado pela fé, o clérigo saiu do altar e virou-se para trás. Embalado pelo som da trovoada, apreciou o que restava da escuridão e fechou os olhos. Um relâmpago repentino, radioso, incandescente, iluminou a pequena capela e obrigou-o a ver. Um rosto cheio de cicatrizes fitava-o sem expressão.
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Nuno Nepomuceno, em exclusivo no blogue Crónicas de uma Leitora.
Esperemos que gostem deste belo conto de Natal! Deixamos aqui um obrigado à equipa do blog Crónicas de uma Leitora e ao Nuno Nepomuceno por nos proporcionarem este belo presente de Natal. :)
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