Sobre o autor:
"Rui serra nasceu em novembro de 1972, data em que a unesco comemorou o “ano internacional do livro". Cresceu e sempre viveu no alentejo. Desde cedo começou a escrever e em fevereiro de 2011 cumpriu o sonho de menino e editou o seu primeiro livro de poesia, “escritos de um outro dia”. Participou ainda em diversos concursos, sempre subordinados à temática “poesia”. Por duas vezes escreveu para a e-zine “nanozine” e participou nas antologias: world art friends da corpos editora em 2011 e na antologia da chiado editora “entre o sono e o sonho” em 2012, 2013 e 2014. A convite, participou num projecto do gafa, grupo de amigos fotógrafos amadores, onde consta um poema seu no livro alicerces, cujas receitas reverteram para a casa “acreditar” no porto. Em 2012, “memórias de uma pena”, o segundo livro de poesia do autor, vê a luz do dia através da chancela da corpos editora. Um ano depois e muita tinta gasta, rui serra edita agora, “fragmentos do meu pensar”, um livro, também este de poesia, onde se nota um certo amadurecimento do autor na relação com as palavras."
Entrevista:
Quando é que começou a escrever e o que o motivou para tal?
Bem, deixa ver se me lembro. Quase que já tinha esquecido essa altura. Escrevo desde os meus 15 anos, já lá vão alguns dias. Bem o motivo foi a falta de “ter que fazer” na altura.
Eu costumava passar as férias de verão em casa dos meus avós maternos e na altura muito pouco havia para fazer. Não tinha as diversões que os jovens têm hoje em dia e passava o dia a ouvir a rádio comercial e à espera de puder ver os desenhos animados, que na altura passavam na rtp2 ao final da tarde.
Com tanta inactividade comecei a escrever a letra das músicas que ouvia na rádio e a fazer uns versos; um dia ouvi uma buzina na rua, chamei a minha avó para ir ver o que era. Não sei qual foi o dia, mas sei que foi nesse dia que tudo começou. Era uma biblioteca ambulante. Depois do registo pude escolher dois livros, a primeira escolha recaiu sobre um livro do “Michel Vaillant”, que é o título dos livros e o protagonista de uma série de livros de banda desenhada sobre desporto automóvel. Como só podia ficar com dois por um período de 15 dias, escolhi um com mais páginas para me ocupar o tempo, e sem saber o que escolher, já não recordo o nome do livro, mas a autora era tão-somente Florbela Espanca. A partir desse dia comecei a ler poesia e a escrever. Desde então nunca mais parei. Este foi o meu primeiro soneto com a devida influência da Florbela.
MEU AMOR
Com os olhos postos em ti, eu passo o dia,
sem que se cerrem por um segundo.
Ai, eu queria ser neste mundo,
meu amor, a tua maior alegria.
Mas meu amor, o que eu não sabia,
é que no teu coração, lá bem no fundo
existia por mim um amor profundo,
coisa bela, que em ti não via.
Surgiste-me à luz como uma flor
e desde então meu lindo amor
és a razão do meu viver.
E eu, não mais esquecerei
o louvado dia em que te encontrei
e atrás de ti fui a correr.
Qual é o primeiro livro que se recorda de ler?
Tirando os manuais escolares e aqueles que, de certa forma, somos obrigados a ler na escola, o primeiro foi o da Florbela Espanca, se bem que não me recordo do nome. O primeiro que recordo o nome foi o tomo I do Senhor dos Anéis, A Irmandade do Anel.
Qual é o próximo livro na sua lista de leitura?
Mistérios, de Knut Hamsun. Não sei como cheguei a este livro, mas já está em cima da mesa-de-cabeceira para começar assim que terminar o factótum de Charles Bukowski.
Quais são os seus livros preferidos? E autores?
Livros preferidos? Julgo ser incapaz de enumerar o meu livro preferido, no entanto vou tentar deixar aqui 3, a saber: O livro do desassossego de Fernando Pessoa e assinado pelo seu semi-heterónimo Bernardo Soares. O Pela estrada Fora de Jack Kerouack e o Na terra do nada de Neil Gaiman, mas estes são agora, se me fizerem a mesma pergunta às 4 da manha, se calhar aparece o Poe em todo o seu esplendor. Difícil, avancemos.
Qual a melhor companhia para um livro? Um café, a praia, o quentinho do sofá?
A melhor companhia para um livro será sempre o seu leitor. Já o melhor sítio para disfrutar dessa companhia será mesmo o conforto do sofá e porque não acompanhado de um café ou mesmo um chá.
Que autores influenciaram a sua escrita?
Aldous Huxley, Allen Ginsberg, Edgar allan Poe, George R.R. Martin, Jack Kerouac, Jim Morrison, Neil Gaiman, William Blake, William S. Burroughs, Charles Bukowski, estes são os autores que mais li e que mais influências exercem sobre aquilo que escrevo. É claro que existem muitos outros, e dos quais se retém sempre qualquer coisa, mas estes são "os escolhidos", sendo que Jack Kerouac e Jim Morrison são por assim dizer a cereja no topo do bolo. Em relação a escritores portugueses, posso dizer que leio alguns mas somente Pessoa, Al-Berto e o José Luís Peixoto têm direito a menção.
O que o inspirou ao escrever FRAGAMENTOS do meu pensar?
Tudo. E quando digo tudo, é mesmo tudo. O ar que me envolve e respiro, as pessoas que existem à minha volta, a sociedade, o agora, etc, dai o nome FRAGAMENTOS do meu pensar, são isso mesmo, bocados de mim.
Como tem sido a reacção dos leitores ao seu livro?
Não sei. A verdade é essa, não sei e nem sei se quero saber. Escrevo porque a escrita para mim é como o ar, não sei viver sem ar, nem sem a escrita. Edito por acho que devo partilhar aquilo que escrevo. Os amigos são suspeitos e praticamente todos dizem que a minha escrita é fantástica e que gostam, mas são amigos e eu suspeito deles. Em relação aos outros que me lêem e eu não conheço, só espero que cada letra, cada frase, vibre dento deles e os faça sentir vivos.
Já alguma vez se deparou com alguém a ler alguma das suas obras, por exemplo, num transporte público ou outro local? Como se sentiu?
Nunca me aconteceu, não sei como iria reagir.
Quando escreve vai mostrando a alguém ou só no final pede opinião? E quem é a primeira pessoa a quem mostra o seu trabalho?
Quando escrevo sou o maior pesadelo da minha mulher. “Amor dá-me um sinónimo de x. Achas que devo substituir esta palavra por esta outra. E o título, achas que este é bom ou este outro se enquadra melhor.” Ela é sempre a primeira pessoa a ler-me e acompanha-me quase letra a letra. Depois de tudo escrito passo para o computador e lá vou eu incomodar de novo. Depois de todo este trabalho dou para 3 amigos para uma correcção do português e para discutirmos uma ou outra coisa. Depois de todas estas situações e feita a revisão, ponto final.
Pensa continuar a focar-se mais na escrita de poesia? Considera mais difícil alcançar mais pessoas através desse género literário?
O MEC escreveu um livro com o sugestivo nome de “O Amor é f….”, e a poesia também. E para além disso é incompreendida por um sem numero de pessoas. Os leitores mais velhos, acham que já não se escreve poesia e que os poetas que eles leram, esses sim a escreviam. Os jovens, os poucos jovens que lêem, lêem histórias de vampiros e outras coisas que a meu ver já estão banalizadas. Os críticos não compreendem a poesia dos dias de hoje e gostavam que fossemos um Pessoa, um Al-berto, alguém de quem eles gostam. As editoras, lol, as editoras são o pior pesadelo dos poetas. Quantas editoras editam poesia, sem que seja o autor a pagar o seu trabalho? Penso continuar na poesia, se bem que está em curso um romance.
Considera que se aposta devidamente nos autores portugueses ou que as editoras têm deixado escapar ou não dão a devida atenção e visibilidade a bons livros escritos por pessoas menos conhecidas?
Não, não se aposta nos autores portugueses, e falo somente de poesia. Qual a editora a editar poetas portugueses sem lhes cobrar a edição? Já viu um contrato com algum poeta desta nova geração? Para que uma editora aposte na poesia (a filha ingrata das letras), sem cobrar pela edição e dando o que é devido ao autor, ou é familiar de alguém conhecido ou tem amigos influentes, de resto se queremos editar, pagamos e ponto.
O que diria a alguém que se estiver a iniciar como autor?
Primeiro que embora o mercado de emprego esteja decadente em Portugal, a escrita neste momento não é meio de subsistência, logo deve escrever por amor à arte sem nunca pensar em quaisquer tipos de lucros. O José Rodrigues dos Santos e o José Luís Peixoto são os que mais vendem em Portugal e mesmo assim o JRS tem um trabalho. Leiam muito, muito mesmo, e dos mais variados estilos, e escrevam por amor à arte, sempre por amor à arte.
Quais são os seus projectos para o futuro?
O futuro em si só é um projecto que edificamos dia após dia. Cada dia está sempre repleto de novas ideias que nem sempre colocamos na prática. Ideias, tenho imensas, mas não sei se vão sair da prateleira. Escrevo praticamente todos os dias, e praticamente todos os ideias reescrevo as minhas ideias. Gostava de escrever um romance, que já vai com algumas páginas escritas e está em stand by já vai para dois anos. Em relação à poesia estou simplesmente a escrever sem saber como vai ser o dia de amanha, que espero seja sorridente. Estou a participar em algumas antologias e vamos ver se alguma editora reconhece o meu trabalho e o edita sem eu ter de pagar por isso.
Agradecemos ao Rui por se ter disponibilizado para esta entrevista, assim como por nos ter cedido um exemplar do seu livro! Desejamos-lhe as maiores felicidades e sucesso!
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