Sinopse
""Longe da Multidão" é um dos romances mais conhecidos de Thomas Hardy. Narra a história de Gabriel Oak e da sua grande paixão pela bela, independente e enigmática Bathsheba Everdene, que chegou a Weatherbury como herdeira de uma vasta propriedade rural. Mas a jovem é também pretendida pelo sedutor sargento Troy e pelo respeitável agricultor de meia-idade Boldwood. Ao mesmo tempo que os destinos destes três homens dependem da escolha de Bathsheba, ela descobre as terríveis consequências do seu coração inconstante.
O jogo das personagens, com as sumptuosas paisagens rurais como pano de fundo, contribuiu para fazer deste romance notável um dos grandes clássicos da literatura inglesa."
Opinião
Não vou mentir. "Longe da Multidão" é mesmo o meu tipo de livro: um clássico, trágico, de amores contidos e personagens femininas com personalidades vincadas. Juntem esses ingredientes numa misturadora, e é provável que saia um livro direitinho para a minha lista de favoritos. Este não foi excepção - adorei-o.
Relata a história de Bathsheba Everdene (nome estranho, ela sabe-o) e o seu triângulo amoroso (ou será quadrado?) com o pastor Gabriel Oak, o lavrador Boldwood e o sargento Troy. Todos eles são personagens fulcrais, mas o foco é colocado nos primeiros dois, que se conhecem no início da obra. E tem todos os elementos que me enchem o coração quando leio um clássico, que fazem dos clássicos clássicos.
Um deles é o facto de as personagens serem dadas a conhecer através de acções, aparentemente simples mas que nada têm de simplistas: a vaidade em se admirar num espelho, o orgulho em não se agradecer uma acção gentil de um estranho, a insegurança numa resposta que não é sim nem não.
Outro é a solidez dos sentimentos num mundo em que o amor se materializava em tudo ou nada. Ou casamento ou distância. Relação amorosa de se mostrar não tinha meios-termos, tudo o resto era escondido, sussurrado, indecoroso. Mas nestas obras ama-se para além dessas fronteiras. Sente-se os sussurros que habitam na quietude dos meios-termos. O tipo de amor que não é só para hoje, que sabe esperar. Que é sólido para, faltando o incentivo que não poderia existir num mundo assim, perdurar. E é tão bom acreditar que é este o amor que vence no final, ainda que talvez apenas nestas páginas. O que é firme e discreto, em vez de explosivo e impulsivo. E como é bom ler tudo isto nas entrelinhas, nas acções, como as do pastor Oak, que seria mais na vida se partisse, mas permanece ao lado de Bathsheba porque esta precisa dele, apesar de não o saber. E que, paradoxalmente, assiste num silêncio ensurdecedor às suas aventuras amorosas porque, sendo apenas um pastor, nada tem para lhe oferecer.
A relação de Bathsheba com cada um dos três personagens masculinos é tão distinta que, nas suas inseguranças, faz sobressair a complexidade de uma jovem que resolve gerir uma propriedade num mundo em que o poder de decisão das mulheres limita a escolher uma fita para o vestido ou que peça tocar no piano para as visitas. Bathsheba é uma personagem forte, mas que tem as suas fraquezas. Que é susceptível ao intangível e não consegue abdicar do que não quer. Que o que sabe que quer é a sua independência.
Podia discutir esta obra até à exaustão, e mesmo assim sentir que ainda não foquei tudo o que é maravilhoso nela em particular, e nos clássicos em geral. Portanto só me resta recomendá-la a quem tem "alma de clássico". Talvez devêssemos ter nascido noutra época, quem sabe?
Para os mais curiosos, deixamos também o trailer da adaptação ao cinema de 2015, com Carey Mulligan e Matthias Schoenaerts nos principais papéis:
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