Sinopse:
"É quase apostólico o que se desprende dos teus ombros alvoroçados. Uma virilidade sensível, singular, acontece em mim quando insensatamente te despes. No último verão fui portador das tuas noites e a perfeição atravessou a madrugada. Estou sempre vivo quando pernoito ao lado da tua respiração nómada, um lume infindável e molhado cura regularmente as doenças. De entre todas as águas, é sobretudo o suor que deve ser preservado."
Opinião:
Começo por agradecer à Marcador pela cedência de um exemplar do livro Hoje Vou Sufocar A Melancolia, de António de Deus-Rosto. O título da obra é francamente apelativo, compreendo o sentimento, empatizei. Para quem, como eu, escreve sobre tristeza mais do que sobre alegria, sabe o que é viver assombrado por uma melancolia peganhosa que não permite um momento de felicidade plena. Acreditei, assim, que a temática deste livro seria algo nesse âmbito, uma tentativa catártica de um Poeta em exorcizar os seus demónios.
No entanto, estava enganada. Posso resumir a minha opinião em três palavras: não percebi nada. Primeiramente, anda por aí essa moda de pegar em meia dúzia de frases românticas, juntar com meia dúzia de frases indecifráveis e publicar livros com uma dúzia de versos que parecem saídos de músicas do Pedro Abrunhosa (com todo o respeito para esse Senhor da música portuguesa que na verdade escreve bastante bem). O que senti ao ler este livro foi uma penosa confusão! Em cerca de uma centena de páginas podem encontrar um conjunto de textos que eu classificaria como uma espécie de prosa poética, maioritariamente enaltecendo o amor e o sexo. A voz é a de um sujeito poético que me parece um pouco histriónico e obcecado.
Para mim a magia da literatura, e em última análise da Poesia, reside muito na capacidade de alguém escrever sobre sentimento sem precisar de designar o sentimento. O feitiço das palavras nos prende quando tudo está tão magistralmente bem escrito que não precisamos que nos digam a palavra amor para sabermos que os protagonistas estão apaixonados, porque nós sentimos com eles, quando eles trocaram sorrisos, quando eles se tocaram acidentalmente num corredor que subitamente ficou mais apertado e se afastaram de imediato, porque às vezes o medo é maior que a vontade. Portanto, se a ideia era escrever uma Ode ao orgasmo e aos fluídos corporais trocados entre noites de pernas abertas talvez tivesse sido mais produtivo não escrever repetidamente a palavra orgasmo, nem expressões como pernas abertas. Nada contra a poesia realista e objectiva dos tempos que correm, nada contra os romances eróticos, que até tenho mais que muitos na minha estante, mas há que ser coerente.
Ao longo da leitura tive mesmo bastantes dúvidas de semântica, li várias vezes as mesmas frases, algumas até me pareciam a roçar o bonito, mas acabava por me deparar com advérbios de modo tombados do céu numa frase com a qual não tinham qualquer relação, muitas palavras bonitas embelezando apenas, de nulo significado e contribuição para a frase.
Nem tudo é mau, se já tiverem este livro na vossa estante, ele tem de facto boas frases para serem enviadas em cartões em ramos de flores, naqueles dias em que o Amo-te já estiver muito badalado.
Termino obviamente ressalvando que não trago a verdade guardada num bolso e que a mensagem do livro me pode ter escapado completamente. Acrescento que encontrei várias semelhanças com a escrita de Pedro Chagas Freitas e, portanto, quem gostar desse autor pode sempre experimentar esta leitura. Para os eternos românticos a quem até o som da palavra batata causa arrepios é uma boa aposta.
No entanto, estava enganada. Posso resumir a minha opinião em três palavras: não percebi nada. Primeiramente, anda por aí essa moda de pegar em meia dúzia de frases românticas, juntar com meia dúzia de frases indecifráveis e publicar livros com uma dúzia de versos que parecem saídos de músicas do Pedro Abrunhosa (com todo o respeito para esse Senhor da música portuguesa que na verdade escreve bastante bem). O que senti ao ler este livro foi uma penosa confusão! Em cerca de uma centena de páginas podem encontrar um conjunto de textos que eu classificaria como uma espécie de prosa poética, maioritariamente enaltecendo o amor e o sexo. A voz é a de um sujeito poético que me parece um pouco histriónico e obcecado.
Para mim a magia da literatura, e em última análise da Poesia, reside muito na capacidade de alguém escrever sobre sentimento sem precisar de designar o sentimento. O feitiço das palavras nos prende quando tudo está tão magistralmente bem escrito que não precisamos que nos digam a palavra amor para sabermos que os protagonistas estão apaixonados, porque nós sentimos com eles, quando eles trocaram sorrisos, quando eles se tocaram acidentalmente num corredor que subitamente ficou mais apertado e se afastaram de imediato, porque às vezes o medo é maior que a vontade. Portanto, se a ideia era escrever uma Ode ao orgasmo e aos fluídos corporais trocados entre noites de pernas abertas talvez tivesse sido mais produtivo não escrever repetidamente a palavra orgasmo, nem expressões como pernas abertas. Nada contra a poesia realista e objectiva dos tempos que correm, nada contra os romances eróticos, que até tenho mais que muitos na minha estante, mas há que ser coerente.
Ao longo da leitura tive mesmo bastantes dúvidas de semântica, li várias vezes as mesmas frases, algumas até me pareciam a roçar o bonito, mas acabava por me deparar com advérbios de modo tombados do céu numa frase com a qual não tinham qualquer relação, muitas palavras bonitas embelezando apenas, de nulo significado e contribuição para a frase.
Nem tudo é mau, se já tiverem este livro na vossa estante, ele tem de facto boas frases para serem enviadas em cartões em ramos de flores, naqueles dias em que o Amo-te já estiver muito badalado.
Termino obviamente ressalvando que não trago a verdade guardada num bolso e que a mensagem do livro me pode ter escapado completamente. Acrescento que encontrei várias semelhanças com a escrita de Pedro Chagas Freitas e, portanto, quem gostar desse autor pode sempre experimentar esta leitura. Para os eternos românticos a quem até o som da palavra batata causa arrepios é uma boa aposta.
Olá!
ResponderEliminarTenho um ódio de estimação por esse senhor Chagas Freitas... E pelos vistos vou querer distância deste senhor Deus-Rosto.
Adorei a opinião - muito assertiva!
Beijinhos e leituras com muito sabor!
Olá Ana :)
EliminarNa verdade nunca li nenhuma obra de Pedro Chagas Freitas na íntegra dado o meu desinteresse pelos excertos que foram aparecendo por aí! Ainda assim, encontrei bastantes pontos em comum.
Obrigada, foi uma opinião difícil de escrever :)
Boas viagens,
Tomé
Tomé,
EliminarTentei ler "Prometo falhar" de Chagas Freitas e foi o maior erro da minha vida... Por isso, consigo compreender muito bem o quanto te deverá ter custado "engolir" a obra de Deus-Rosto".
Que venham leituras com muito, mas muito mais sabor!