sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Opinião “A Célula Adormecida”, Nuno Nepomuceno

Sinopse:

“«Assim queira Deus, o Califado foi estabelecido e iremos invadir-vos como vocês nos invadiram. Iremos capturar as vossas mulheres como vocês capturaram as nossas mulheres. Vamos deixar os vossos filhos órfãos como vocês deixaram órfãos os nossos filhos.»

Daesh, o autoproclamado Estado |slâmico, 2014.

Em plena noite eleitoral, o novo primeiro-ministro português é encontrado morto. Ao mesmo tempo, em Istambul, na Turquia, uma jornalista vive uma experiência transcendente. E em Lisboa, o pânico instala-se quando um autocarro é feito refém no centro da cidade. O autoproclamado Estado Islâmico reivindica o ataque e mostra toda a sua força com uma mensagem arrepiante.

O país desperta para o terror e o medo cresce na sociedade. Um grande evento de dimensão mundial aproxima-se e há claros indícios de que uma célula terrorista se encontra entre nós. Todas as pistas são importantes para o SIS, sobretudo quando Afonso Catalão, um reputado especialista em Ciência Política e Estudos Orientais, é implicado.

De antecedentes obscuros, o professor vê-se subitamente envolvido numa estranha sucessão de acontecimentos. E eis que uma modesta família muçulmana refugiada em Portugal surge em cena.

A luta contra o tempo começa e a Afonso só é dada uma hipótese para se ilibar: confrontar o passado e reviver o amor por uma mulher que já antes o conduziu ao limiar da própria destruição.

Com uma escrita elegante e o seu já tão característico estilo intimista e sofisticado, inspirado em acontecimentos verídicos, Nuno Nepomuceno dá-nos a conhecer A Célula Adormecida. Passado durante os 30 dias do Ramadão, este é um romance contemporâneo, onde ficção e realidade se confundem num estranho mundo novo e aterrador que a todos nós nos perturba. Um thriller psicológico de leitura compulsiva, inquietante, negro e inquestionavelmente atual.”


Opinião:

Como já todos devem saber, Nuno Nepomuceno é um autor português muito querido aqui no blogue! Já tendo lido os 3 livros anteriores a este, as expectativas para esta sua nova obra eram deveras elevadas. Para piorar a situação das expectativas, o autor resolveu também aventurar-se na criação de um livro bastante diferente do que nos habituou!

Em termos comerciais, esta obra enquadra-se no género thriller. No entanto, sinto-me forçada a dizer que esta não devia ser apenas enquadrada neste género. Aliás, senti que durante a obra o suspense perdeu alguma qualidade no meio da abordagem de certos temas, feita de forma invejável. E com isto consigo dizer que gostei muito de ler a obra, no entanto, para mim esta não atingiu as tão esperadas 5 estrelas! Difícil vai ser agora fundamentar muito bem porquê! :)

Tudo começa quando Ibrahim – muçulmano – provoca uma explosão num atentado em Lisboa. Simultaneamente, também o futuro primeiro-ministro é encontrado morto. E é a partir destes dois acontecimentos que o autor nos dá a conhecer o que é ser muçulmano, o que é o autoproclamado estado islâmico e o que é ser refugiado. Relativamente a este aspecto, considero a obra muito actual e de extrema importância para toda a gente. Se há algo que esta obra fez por mim, foi enriquecer-me culturalmente neste assunto de uma forma não maçadora. Contudo, é um tema que exige uma leitura atenta para uma melhor compreensão do mesmo. Claro está que se calhar quem já percebe bem o tema não precisa de tanta atenção como eu :)!

Mas perante um livro que nos é apresentado como thriller, a verdade é que como leitor esperamos isso mesmo! No entanto, o que senti foi que não foram o mistério e a acção que assumiram o papel principal nesta história, mas sim o esclarecimento do tema de base. De certa forma, compreendo que tal tenha acontecido, porque fazia parte da ideia do autor trazer o tema ao de cima. Mas penso que se houvesse um maior equilíbrio teria sido possível focar devidamente este tema e não descurar do thriller. Ainda assim, volto a deixar a ressalva de que gostei bastante da obra!

E como seria de esperar de Nuno Nepomuceno, há coisas que nunca mudam e que na minha opinião não devem mesmo mudar :)! É verdade que a escrita do autor evoluiu muito desde o seu início – cada vez mais contínua e fluída, tornando a leitura mais rápida do que achamos que iria ser com tantas páginas. No entanto, mais do que a evolução na escrita, a capacidade de interligar vários temas e transmitir várias mensagens não necessariamente relacionadas ao longo do livro é efectivamente uma qualidade a referir! Apesar de não ser uma novidade no Nuno, é mesmo das coisas que mais gosto nele!

Outra das características que gosto muito no Nuno é a capacidade de envolver o leitor e o fazer sentir algo – no entanto, no que diz respeito a esta última, não me pareceu tão bem neste livro como nos anteriores. Com isto não quero dizer que o livro não me envolveu e que não me fez sentir, porque fez! No entanto, personagens como Afonso e Diana (de grande destaque ao longo da narrativa) não me fizeram sofrer por elas! Já por exemplo Sami Fahran fez-me sofrer um pouco e lembrar-me desta tão bela característica do Nuno que penso estar apenas escondida no meio de um livro muito enriquecedor!

Acima de tudo, penso que o objectivo a que o autor se propôs era muito alto! E que em relação a isto, não defraudou as minhas expectativas, porque considero que sendo a escada a subir tão grande, o resultado é invejável! No entanto, sinto-me cada vez mais exigente com o Nuno. Após a leitura de três livros (Trilogia Freelancer) da sua autoria, é claro que fiquei a conhecer em cada um inúmeras características dele e agora sinto que as quero todas! :)

Assim, como não poderia deixar de ser, é a minha opinião sincera. E, apesar de todos os “se” e “no entanto”, é um livro que recomendo. Mas deixo alguns conselhos: Não se encham de expectativas. Não estamos perante um livro semelhante à Trilogia Freelancer. No entanto, temos aqui uma obra muito rica a nível histórico e cultural - mais uma qualidade a acrescentar às inúmeras qualidades do autor.



Podem ler aqui as opiniões das obras publicadas pelo autor:
- "O Espião Português"
- "A Espia do Oriente"
- "A Hora Solene"
 

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