domingo, 16 de julho de 2017

Opinião "A Substância do Mal", Luca D'Andrea

Sinopse

“Jeremiah Salinger muda-se com a mulher para uma calma comunidade isolada nas montanhas do Sul do Tirol.

Ali descobre, por acaso, um facto sangrento que remonta há trinta anos: o massacre de três jovens. O crime não tem um culpado e, na aldeia, ninguém quer falar sobre o assunto. 

Apesar da crescente hostilidade que o rodeia, Salinger começa a remexer no passado, penetrando cada vez mais profundamente no misterioso assassinato. Até descobrir a imprevisível e aterradora verdade.”


Opinião

Este thriller chegou-me às mãos graças à generosidade da Suma de Letras, que cedeu às Bloguinhas uma cópia para leitura (e à qual agradecemos desde já). E, de facto, os mistérios são dos géneros mais consensuais entre as Bloguinhas! No meu caso, não é difícil entreter-me com um livro deste género – confesso que sou ingénua o suficiente para aceitar as direcções nas quais o autor coloca os leitores e aproveitar a “viagem”, desde que minimamente lógica. E foi isso que para mim falhou neste livro… Faltou uma certa plausibilidade nas motivações das personagens.

Não querendo desvendar demasiado sobre a história (e não mencionando nada que a própria contracapa não revele), o enredo gira em torno de Jeremiah Salinger, um argumentista-documentarista americano, que se muda com a esposa e a filha para uma pequena vila no Sul do Tirol. Aí, embrenha-se na realização de um documentário, até à ocorrência de um terrível acidente. Como consequência, Salinger descobre que há 30 anos ocorreu um triplo homicídio na zona, e vê-se impelido a investigá-lo. Toda a obra está ainda envolvida por uma aura sobrenatural, que apenas serve como elemento distractor, uma vez que cedo se torna evidente que os acontecimentos têm uma origem bem mundana… Como tal, este elemento (a dita Besta) nunca chega a ser credível, tornando-se até por vezes despropositado. Por outro lado, as perdas do acidente sofrido por Salinger parecem não ser para si origem de grande pesar. Pelo ritmo da narração, o ócio da convalescença e a sua própria vivência parecem incomodá-lo bem mais do que o destino das outras vítimas, que não passam de figurantes da narrativa e não ocupam qualquer papel no resto da obra. Ainda, foi para mim difícil sentir-me satisfeita com o plot twist final. Como já mencionei, com o mínimo de ritmo e de lógica, é fácil entreter-me com um livro deste género. Mas este não fez sentido para mim – há demasiadas pontas soltas, e o próprio móbil do crime não é de todo plausível!

Ainda assim, o autor fez um bom trabalho na criação de um ambiente da montanha, relativamente isolado, com uma comunidade pequena e fechada que faz questão de mostrar a Salinger diariamente que ele é um forasteiro. Penso que este ambiente é o que distingue a obra – torna-se quase claustrofóbico.

Também as personagens se revelam fiéis a si próprias, sendo que a constância do apoio da família de Salinger contrasta com a hostilidade dos residentes, que se manifesta de múltiplas formas. Por outro lado, o autor faz questão de não colocar um véu para amenizar a crueldade que se abate sobre as vítimas do massacre antigo, nem para esconder o sofrimento e trágico destino dos que lhes sobreviveram, também eles vítimas.

Ainda assim, sou da opinião de que a obra foi prejudicada pela falta de plausibilidade em prol de um plot twist que pretendia ser inesperado… É uma obra de leitura fácil, com um ritmo adequado para um thriller. Porém, um final diferente (ou uma melhor preparação para este mesmo final) teriam contribuído para que tivesse ficado com uma opinião bastante mais favorável!


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