quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Opinião "A Magia do Acaso", Tiago Rebelo

Sinopse

Sofia, secretária num escritório de um famoso advogado, casada com André, um bem-sucedido administrador de uma empresa do ramo imobiliário, e eterna sonhadora, sente-se insatisfeita com a confortável vida que leva. Num encontro improvável conhece Bernardo, um fascinante homem de negócios. Apesar do charme inebriante deste e da inesperada atracção que sente não se decide a pôr em causa o seu casamento. Mas um acontecimento inesperado encarregar-se-á de fazer tremer os pilares da vida monótona que hesita em deixar. Após inúmeros encontros e desencontros, peripécias e reviravoltas, Sofia consegue finalmente fazer uma ruptura total com a vida que levou até aqui, virar a página e entregar-se por completo a Bernardo. Os sonhos e a magia do acaso vencem sempre.

Opinião 

Tiago Rebelo é um nome incontornável para quem está atento ao que se publica, a uma velocidade considerável, neste Jardim da Europa à beira-mar plantado. As suas obras povoam as estantes de qualquer livraria que se vos passe à frente. Portanto, sendo um autor português com bastante visibilidade tinha alguma curiosidade. Começo por elogiar a escrita impecável e o estilo muito simples mas simultaneamente requintado. Porém, desacreditando eu com veemência no Amor à primeira vista, um livro com o título A Magia do Acaso auspiciava uma leitura que não se enquadra bem no estilo de livros que aprecio. Apesar disso, acredito que seja um livro simpático, rápido e fácil para os amantes do género.

Neste romance, Tiago Rebelo brinda-nos com um conjunto de personagens que insistem em atravessarem-se umas nos caminhos das outras, como se não houvesse mais espaço no mundo. Ora vejamos. Sofia, casada com André, descobre que o marido mantém uma relação para lá de muito afectuosa com Margarida, sua colega de trabalho. Na outra ponta da narrativa temos Bernardo, que acaba de se separar de Pipa, a qual conhece Tomé, o patrão de Sofia. Bernardo e Sofia, por culpa infinita da Magia do Acaso, acabam por se cruzar, e a partir daí a imprevisibilidade não é também o forte desta obra.

O que dizer destes tristes à procura da Felicidade? Na verdade não consegui desenvolver especial apreço por nenhum deles, não consegui torcer por ninguém, vi-me incapaz de empatizar, e a cada página que passava aumentava o meu desejo de lhes dizer que fossem cada um à sua vida. 

Senti que as vidas destas pessoas se cruzavam debaixo de uma nuvem de sombria desesperança. A minha impressão geral é que o autor se focou muito no pior do pior das relações, no imbróglio que são as traições, na frustração, no orgulho, na saudade caustica, na inevitabilidade do fracasso, e depois falhou desmedidamente na altura em que é suposto nos contar uma história de Amor e nos emocionar. Não houve suspiro, não houve paixão, não houve magia.

Vivenciei um certo desalento durante a leitura porque não queria acreditar que estas personagens fossem o reflexo de pessoas reais. Vi-me constantemente na dúvida se seremos assim todos tão maus, ou se alguns de nós não conseguem apenas encontrar o fino equilíbrio entre as qualidades e os defeitos. E isto é um ponto positivo, a literatura nos fazer pensar no que nos rodeia. 

Ainda que em algumas partes tenha considerado que o narrador foi excessivo ao explicar os sentimentos e os pensamentos das personagens, em outros momentos as linhas de raciocínio deixaram transparecer um autor que é atento e observador, que contempla cuidadosamente e com carinho a beleza do quotidiano. Por exemplo, é muito engraçado quando o que dizemos e fazemos é interpretado pelo outro de uma forma totalmente díspar e daí ilibamos as nossas culpas, com frequência abdicamos da responsabilidade dos desentendimentos criados por falhas na comunicação. 

O autor levanta ainda algumas questões no âmbito da fragilidade das relações humanas para as quais, mais tarde ou mais cedo, procuramos resposta: será que o Amor eterno sobrevive apenas ao abrigo da redoma da falsa moralidade? É o Amor capaz do perdão a qualquer custo? É justo as pessoas serem usadas como segundas opções, guardadas de forma calculada para serem activadas como plano de contingência quando não há magia nem acaso que nos salve da solidão?

Fica também a mensagem de como levianamente nos podemos transformar no que outrora repudiámos e como esse é o caminho mais fácil por ser o que conhecemos, como nos acomodamos sem medo do desastroso final de se viver apenas medianamente feliz.

 


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