Sinopse
"Só porque tens um passado, não quer dizer que não possas ter um futuro.
Mudar de escola no último ano e ser a miúda nova do liceu nunca é fácil para ninguém. Amanda Hardy não é excepção: se quiser fazer amigos e sentir-se aceite, terá de baixar as defesas e deixar que os outros se aproximem.
Mas como, quando guarda um segredo tão grande?
Uma história inspiradora e comovente que nos enche o coração e nos ensina que o amor mais verdadeiro e profundo nasce da coragem de sermos nós mesmos." - in Goodreads
Mudar de escola no último ano e ser a miúda nova do liceu nunca é fácil para ninguém. Amanda Hardy não é excepção: se quiser fazer amigos e sentir-se aceite, terá de baixar as defesas e deixar que os outros se aproximem.
Mas como, quando guarda um segredo tão grande?
Uma história inspiradora e comovente que nos enche o coração e nos ensina que o amor mais verdadeiro e profundo nasce da coragem de sermos nós mesmos." - in Goodreads
Opinião
“Se Eu Fosse Tua” (“If I Was Your Girl”, no original) conta a história de Amanda Hardy, uma jovem transgénero que, após um grande período a sofrer bullying por parte dos colegas pela sua identidade de género, e que culmina numa agressão particularmente grave, muda de escola, tentando fugir à intolerância da sua comunidade. Amanda vê nesta mudança a oportunidade de se dar a conhecer como uma rapariga adolescente como todas as outras, livre do preconceito que desde cedo a perseguiu.
Amanda vai às aulas, faz amigos, discute com o pai, e apaixona-se, como qualquer rapariga da sua idade. Ainda assim, para além da tempestade de emoções própria da adolescência, a protagonista carrega o peso da culpa e da vergonha – de ser quem é, e de o esconder de quem lhe é mais próximo.
Não fosse o pormenor de a protagonista ser transgénero, e “Se Eu Fosse Tua” tratar-se-ia de mais um banalíssimo teen drama capaz de entreter marginalmente os fãs do género. Mas a verdade é que Amanda, pela sua identidade de género, passa por experiências que lhe são únicas e com as quais de outro modo um leitor cisgénero não se cruzaria. Na minha opinião, esta obra vale essencialmente pelo modo como chama a atenção para as vivências de alguém que é marginalizado por parte da sociedade, e de como a nossa atitude pode fazer a diferença na vida dessa pessoa. Haverá sempre pessoas de mente fechada que magoam os que são diferentes (quase) sem se aperceberem, para não falar dos que o fazem propositadamente. Está nas nossas mãos informar-nos sobre temas que até nos podem ser inicialmente desconfortáveis, mas que são absolutamente necessários para nos tornarmos mais empáticos e tolerantes. Este percurso é bem ilustrado pela personagem do pai de Amanda, que consegue eventualmente deixar o amor que sente pela filha ultrapassar o seu preconceito.
Para além da disforia de género, o termo clínico que traduz o sofrimento das pessoas cujo género não corresponde ao que lhes foi atribuído à nascença, o livro aborda vários outros problemas de saúde mental que muitas vezes afectam estas pessoas, como a ansiedade, a depressão e o suicídio. Mas, e felizmente, a autora também fala do caminho para a recuperação, e de como esta é alcançável com ajuda profissional e dos que nos rodeiam.
Um aspecto muito importante para o qual Russo alerta é o facto de que a história de Amanda é isso mesmo – a história de Amanda. Não é a experiência universal de todas as pessoas transsexuais, nem sequer corresponde exactamente à experiência da autora. Há pessoas que não têm acesso a todos os cuidados e recursos disponíveis a Amanda, o que não deve invalidar a sua existência. Com ou sem hormonas, com ou sem cirurgias, em qualquer momento da sua transição e de qualquer modo pelo qual a escolham fazer. Ainda assim, penso é bom para os leitores transgénero começarem a ver-se representados em obras mais mainstream.
Portanto, não considero que este seja um livro cuja forma ou escrita deslumbre, mas que vale pelo conteúdo, e que pode ser uma leitura muito interessante para quem quer saber mais sobre o tema. Acho-o especialmente relevante para os leitores mais jovens, que só têm a ganhar com a exposição a vidas diferentes das suas (e o que são os livros se não maneiras de vivermos várias vidas diferentes?)
Amanda vai às aulas, faz amigos, discute com o pai, e apaixona-se, como qualquer rapariga da sua idade. Ainda assim, para além da tempestade de emoções própria da adolescência, a protagonista carrega o peso da culpa e da vergonha – de ser quem é, e de o esconder de quem lhe é mais próximo.
Não fosse o pormenor de a protagonista ser transgénero, e “Se Eu Fosse Tua” tratar-se-ia de mais um banalíssimo teen drama capaz de entreter marginalmente os fãs do género. Mas a verdade é que Amanda, pela sua identidade de género, passa por experiências que lhe são únicas e com as quais de outro modo um leitor cisgénero não se cruzaria. Na minha opinião, esta obra vale essencialmente pelo modo como chama a atenção para as vivências de alguém que é marginalizado por parte da sociedade, e de como a nossa atitude pode fazer a diferença na vida dessa pessoa. Haverá sempre pessoas de mente fechada que magoam os que são diferentes (quase) sem se aperceberem, para não falar dos que o fazem propositadamente. Está nas nossas mãos informar-nos sobre temas que até nos podem ser inicialmente desconfortáveis, mas que são absolutamente necessários para nos tornarmos mais empáticos e tolerantes. Este percurso é bem ilustrado pela personagem do pai de Amanda, que consegue eventualmente deixar o amor que sente pela filha ultrapassar o seu preconceito.
Para além da disforia de género, o termo clínico que traduz o sofrimento das pessoas cujo género não corresponde ao que lhes foi atribuído à nascença, o livro aborda vários outros problemas de saúde mental que muitas vezes afectam estas pessoas, como a ansiedade, a depressão e o suicídio. Mas, e felizmente, a autora também fala do caminho para a recuperação, e de como esta é alcançável com ajuda profissional e dos que nos rodeiam.
Um aspecto muito importante para o qual Russo alerta é o facto de que a história de Amanda é isso mesmo – a história de Amanda. Não é a experiência universal de todas as pessoas transsexuais, nem sequer corresponde exactamente à experiência da autora. Há pessoas que não têm acesso a todos os cuidados e recursos disponíveis a Amanda, o que não deve invalidar a sua existência. Com ou sem hormonas, com ou sem cirurgias, em qualquer momento da sua transição e de qualquer modo pelo qual a escolham fazer. Ainda assim, penso é bom para os leitores transgénero começarem a ver-se representados em obras mais mainstream.
Portanto, não considero que este seja um livro cuja forma ou escrita deslumbre, mas que vale pelo conteúdo, e que pode ser uma leitura muito interessante para quem quer saber mais sobre o tema. Acho-o especialmente relevante para os leitores mais jovens, que só têm a ganhar com a exposição a vidas diferentes das suas (e o que são os livros se não maneiras de vivermos várias vidas diferentes?)
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