sábado, 16 de dezembro de 2017

Opinião "A Musa", Jessie Burton

Sinopse

"Uma imagem esconde mil palavras...

Londres, anos sessenta do século vinte: uma imigrante proveniente das Caraíbas trabalha numa galeria de arte onde surge um quadro perdido durante a Guerra Civil espanhola e envolto em segredos inexplicáveis. Quem terá pintado este quadro admirável que surgiu de parte nenhuma? A verdade acerca desta pintura remonta a 1936 e a uma grande casa rural em Espanha, onde Olive Schloss, filha de um abastado negociante de arte, acalenta ambições que os pais desconhecem. Por este frágil paraíso, na Andaluzia, passam o artista revolucionário Isaac Robles e a sua meia-irmã, Teresa. Ambos se insinuam no seio da família Schloss, com consequências inimagináveis e desastrosas... 

A Musa é o novo romance da autora de O Miniaturista."


Opinião

Depois da leitura d’O Miniaturista, cuja opinião podem ler aqui, e de ter mergulhado pela primeira vez no imaginário criado por Jessie Burton, mal pude esperar para ler esta nova obra da autora. Graças à gentileza da Editorial Presença, tal foi possível, e deixamos desde já o nosso agradecimento à editora!

Temia que a segunda publicação de Jessie Burton não estivesse à altura da primeira, como tende a suceder quando as expectativas são altas. No entanto, tem tudo o que aprecio e que procurava num livro quando o li.

Esta narrativa é um entrelaçar de duas histórias. Por um lado, a de Olive, uma jovem com um talento que se esforça por mostrar, estranhamente escondendo-o. Por outro a de Odelle, emigrante das Caraíbas em Londres, talentosa de formas muito diferentes numa sociedade que ainda não o sabe reconhecer, devido à cor da sua pele. As duas existem em décadas diferentes e dançam de uma forma fluida, aproximando-se e afastando-se, deixando os seus paralelismos e assimetrias revelar-se com o virar das páginas.

Mais uma vez, as descrições da autora são tão vívidas que juraria já ter visto as pinturas de Olive. São tão cheias de cor as atmosferas criadas por Jessie Burton, tão clara a imagem mental dos seus cenários, que o leitor se sente imediatamente imerso nas vidas ficcionadas destas duas personagens, tal como se fossem reais. São narrativas bonitas, de sacrifício e perda, libertação e desilusão, que não dependem do mistério da ponte entre ambas, mas sabem convergir pausadamente para a sua revelação. É bem mais do que um livro sobre uma rapariga que pinta quadros e outra que escreve poemas, tantos são os recantos da imaginação da autora e as ambições por detrás de cada personagem.

É raro gostar tanto da viagem literária quando já se parte com expectativas altas mas, com este livro, Jessie Burton manteve a fasquia elevada. Quanto desejaria que Olive e Odelle não fossem apenas fruto da imaginação da autora, para poder explorar as suas fascinantes existências! Como são, resta aguardar ansiosamente por uma terceira publicação, esperando encontrar nela a mesma intensidade das duas primeiras...


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