sábado, 3 de novembro de 2018

Opinião " A Metamorfose", Franz Kafka

Sinopse

"A Metamorfose é a mais célebre novela de Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a história da literatura. O texto coloca o leitor diante de um caixeiro-viajante - o famoso Gregor Samsa - transformado em inseto monstruoso. A partir daí, a história é narrada com um realismo inesperado que associa o inverossímil e o senso de humor ao que é trágico, grotesco e cruel na condição humana - tudo no estilo transparente e perfeito desse mestre inconfundível da ficção universal."

Opinião

Franz Kafka apresenta-nos, em A Metamorfose, Gregor Samsa, caixeiro-viajante de profissão, irmão e filho exemplar, alicerce financeiro duma família parasitária que acorda, numa dessas vulgares manhãs, transformado num insecto gigante. 

Apesar do insólito evento descrito, o desenrolar dos acontecimentos, que nos é fornecido em grande proximidade com o protagonista, é tão natural que aceitamos a premissa como um evento plausível e possível de ter lugar na casa ao lado.

A primeira preocupação de Gregor face ao seu recente monstruoso aspecto é o trabalho, como iria justificar o atraso ou a falta? Como chegaria ao emprego naquelas condições? Percebemos desde logo que Kafka não nos quer apenas contar uma história caída no poço do absurdismo, entrega-nos antes uma metáfora em forma de livro. Quando a família de Samsa se apercebe do seu estado repudiam-no de imediato e entregam-no rapidamente à prisão de si mesmo. Inevitavelmente empatizamos com o infeliz bicho, que ainda sente e pensa como um ser humano, e se apercebe da ingratidão dos que o rodeiam e de como o amor, esse com letra minúscula, facilmente escasseia se o sacrifício e o fardo forem soberanos. 




A Metamorfose, publicada pela primeira vez em 1915, continua a ser uma alegoria à sociedade utilitarista em que vivemos. Assusta-me esta leitura me ter trazido à lembrança uma realidade que por vezes me entra coração adentro: os idosos abandonados quando já não podem ser mais do que aquilo que neles restou, presos num corpo que os atraiçoou-o, incapazes de serem mais do que um peso para a família que ainda amam e que por vezes não consegue estar à altura desse Amor. 

Este pequeno livro equaciona as grandes questões, as relações interpessoais, a família, as aparências, a importância do trabalho e do dinheiro, as transformações e adaptações, as pequenas e grandes metamorfoses que enfrentamos, e como todas essas esferas se conjugam na construção daquilo que somos e de como vemos o mundo. 

De leitura rápida e com uma exímia escrita, este bizarro clássico merece um lugar em qualquer estante. O final poético e amargo, o único possível, é a cereja no topo do bolo de um conceituado chefe. 


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