Sinopse
Meursault recebe um telegrama: a mãe morreu. De regresso a casa após o funeral, enceta amizade com um vizinho de práticas duvidosas, reencontra uma antiga colega de trabalho com quem se envolve, vai à praia - até que ocorre um homicídio. Romance estranho, desconcertante sob uma aparente singeleza estilística, em O Estrangeiro joga-se o destino de um homem perante o absurdo e questiona-se o sentido da existência. Publicado originalmente em 1942, este primeiro romance de Albert Camus foi traduzido em mais de quarenta línguas e adaptado para o cinema por Luchino Visconti em 1967, sendo indubitavelmente uma das obras-primas da literatura francesa do século XX.
Opinião
Aquando da ida à Feira do Livro de Lisboa, o ano passado, deixei-me cair em tentação, e, entre outros livros a preços apetitosos, trouxe um exemplar de O Estrangeiro, de Albert Camus. Já havia, naturalmente, ouvido falar deste nome, ou não fosse ele um Prémio Nobel da Literatura e uma incontornável referência na Filosofia emergida no século passado.
Comecei esta leitura sem nenhumas expectativas e sem sequer ter lido a sinopse da obra. Sabia porém tratar-se de um ensaio filosófico mais do que um romance banal. E a verdade é que esta obra deve ser lida partindo desse pressuposto, ou correm o risco de não perceber onde se encontra a genialidade numa história, que lida sem atenção às entrelinhas, não passa de um relato de um caso insólito.
Já enquanto ensaio filosófico, Camus expõe em O Estrangeiro a sua complexa teoria do absurdo que, por oposição ao existencialismo, aceita que a vida seja desprovida de sentido e que face à angústia dessa revelação devemos aceitá-la, aproveitando a felicidade das pequenas coisas.
Camus apresenta-nos Meursault, um homem que recebe com indiferença a notícia da morte da mãe, que parece viver apenas das sensações, distante, estrangeiro ao mundo que o rodeia. Após o funeral da mãe o protagonista envolve-se amorosamente com Marie e inicia uma amizade com um vizinho duvidoso. Num dia de sol (e talvez por causa do sol), num passeio pela praia, Meursault comete um homicídio e é condenado à morte. A partir daí o seu julgamento toma conta das restantes páginas levando-nos numa viagem por uma das questões mais importantes do existencialismo, e em última análise, da Filosofia, diante do derradeiro fim será Deus a resposta e o sentido último? Ou é Deus uma ilusão para nos esquivarmos a aceitar a condição absurda de existir?
Para mim mais do que tentar responder a essas questões, Camus tem consciência da impossibilidade de vivermos no nosso mundo de mãos dadas com o absurdismo, diariamente somos postos à prova, colocados face a desafios, projectos e prazos, queremos ser, queremos fazer, queremos chegar, queremos dar sentido.
Na vertigem dos dias comuns não há tempo para aceitar que as nossas conquistas são trivialidades de uma ausência de sentido universal e que deveríamos, ao invés, aproveitar o calor do sol, a brisa do mar e o suor dos corpos. Mas viver movidos por impulso, indiferentes, tornar-nos-ia agressivos e insensíveis aos olhos de um mundo de falsos existencialismos, seriamos condenados ao mesmo fim que Meursault.
Se ficam atormentados e inquietos em pensar nestas questões O Estrangeiro não é um livro que faça falta nas vossas estantes. No meu caso, que me vejo muitas vezes em conflito com o desconcerto do mundo, fiquei tentada a abrigar na minha biblioteca as restantes publicações de Albert Camus.
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