Sobre a autora:
Sandra Carvalho é uma das autoras portuguesas mais conceituadas do romance fantástico. A Saga das Pedras Mágicas, que a Presença publicou também na coleção «Via Láctea», e que é constituída pelos títulos A Última Feiticeira, O Guerreiro Lobo, Lágrimas do Sol e da Lua, O Círculo do Medo, Os Três Reinos, A Sacerdotisa dos Penhascos, O Filho do Dragão e Sombras da Noite Branca, conquistou um vasto número de fãs entre os apreciadores do género. Depois de O Olhar do Açor e Filhos do Vento e do Mar, O Grito do Corvo é o último volume das Crónicas da Terra e do Mar.
Entrevista:
Quando é que começou a escrever? E o que a fez começar a escrever?
Qual o primeiro livro que se recorda de ler? E o próximo na lista?
Quais os seus livros preferidos e autores?
Comecei novinha, por volta dos doze anos, porque sentia que ler já não era suficiente. Tinha muitas histórias a fervilhar no meu imaginário e precisava de lhes dar voz. Além disso, ficava com receio de me esquecer de uma boa ideia se não a assentasse logo no papel.
Qual o primeiro livro que se recorda de ler? E o próximo na lista?
Os primeiros livros que me recordo de ler, ainda no colinho da minha mãe, são os da Coleção Formiguinha, da Majora. Foi com eles que aprendi a juntar as letras, antes de ir para a escola. Quanto ao próximo, não sei qual será… A lista de espera é interminável! Para já, estou rodeada de livros de História, que irão auxiliar-me na composição do meu novo projeto.
Quais os seus livros preferidos e autores?
É-me difícil destacar livros, pois sou apaixonada por muitos. No entanto, alguns marcaram-me profundamente e, de certa forma, mudaram a minha vida. Entre eles estão o Congo, de Michael Crichton, e As Brumas de Avalon, de Marion Zimmer Bradley. O Congo foi o primeiro livro «para crescidos» que me lembro de devorar, tinha dez anos, e fiquei fascinada pelo modo brilhante como o autor misturava a ciência e a fantasia. Aos quinze anos, As Brumas de Avalon deram-me a conhecer o Universo Fantástico no feminino, e, com A Saga das Pedras Mágicas em construção, decidi que também queria dar voz às mulheres nas minhas histórias. Já a paixão por corsários e piratas, que mais recentemente me inspirou a escrever as Crónicas da Terra e do Mar, nasceu com as aventuras do Sandokan e d’O Corsário Negro, obras do italiano Emílio Salgari.
Qual a melhor companhia para um livro? O café, a praia, o quentinho do sofá?
No café e na praia gosto de desfrutar da companhia dos meus amigos, porque não me sobra muito tempo livre para fazê-lo. Além disso, sou uma leitora lenta e atenta. Se me encanta um parágrafo, saboreio-o várias vezes antes de avançar. Por isso, como prefiro ler em ambientes tranquilos, tenho de escolher o quentinho do sofá… com as minhas gatas enroladas no meu colo.
O que a inspirou a escrever “A Noite do Caçador”?
A Noite do Caçador é uma história que nasceu em paralelo com A Saga das Pedras Mágicas, na minha adolescência, da vontade de misturar realidade histórica com fantasia, criando um mundo governado por povos de sangue mágico inspirados nos quatro Elementos, com uma acérrima antipatia pelos seres humanos. A ação desenrola-se séculos antes da Saga, na pré-história Nórdica, e inicia-se com a descrição da maldição infligida à primeira Feiticeira que se apaixonou por um ser humano. Por ser uma narrativa mais sombria, que explora conceitos e sentimentos que, na altura, eu não tinha conhecimentos nem maturidade para desenvolver, acabou por ficar «em pausa», num esboço simples, enquanto o romantismo da Saga ganhava vida. Agora, trinta anos passados, depois de abraçar o grande desafio que foi a construção das Crónicas da Terra e do Mar, apeteceu-me regressar às origens da «minha magia». E o «esboço» desenvolveu-se muito para além do que eu própria imaginei, entrecruzando várias aventuras que levaram as minhas emoções ao limite. Costumo dizer que a escrita deste livro foi um mergulho na escuridão, até encontrar a luz.
Como tem sido a reacção dos leitores aos seus livros? E a este último – “A Noite do Caçador?”
Desde a publicação d’A Última Feiticeira, tenho a sorte e o privilégio de ter ao meu lado um grupo maravilhoso de leitores, que me apoia e dá forças para continuar a escrever. É comovente conseguir reunir as três gerações de uma família, numa alegre conversa em torno das minhas histórias, e é extraordinário ouvir alguém dizer que já leu cinco ou seis vezes os meus livros, ao longo dos anos, experimentando sempre sensações diferentes. Sem dúvida, a verdadeira magia da minha escrita está no carinho dessa partilha! Quanto ao livro A Noite do Caçador, as reações também têm sido fantásticas. Os meus Companheiros de Aventura estão a adorar o regresso ao Norte do Mundo e às intrigas dos Feiticeiros. Além disso, algumas pessoas que ainda não conheciam o meu imaginário têm aproveitado o facto de o livro ser um standalone para mergulharem nele. E os comentários têm sido muito bons, o que me deixa bastante satisfeita!
Tendo em conta o género literário – Fantasia – de onde surgiu o gosto pelo género?
O gosto pelo género surgiu cedo, através das histórias de aventura com pitadas de magia que a minha avó e a minha mãe me contavam. Em criança, como não tinha a possibilidade de comprar os livros que desejava, a minha ânsia de ler compelia-me a devorar tudo o que me vinha parar às mãos. Isso fez com que eu me apaixonasse pela maioria dos géneros literários. Então, quando comecei a escrever, percebi que a Fantasia me permite misturar todas as minhas paixões, influências, conhecimentos — a realidade histórica, o romance, a aventura, a crítica social, politica e religiosa, a ciência, o terror, a comédia, a magia… É por isso que o género Fantástico me atrai. Ao escrever, o único limite que enfrento é a minha imaginação!
Já alguma vez se deparou com alguém a ler algum dos seus livros? Como reagiu?
Sim! Na paragem do autocarro, no café, na praia… Sorri e continuei o meu caminho. Sinto-me agradecida e muito feliz quando as pessoas me reconhecem, e vêm ao meu encontro para conversar, mas não acho correto fazer o contrário.
Considera que se aposta devidamente nos autores portugueses ou que as editoras têm deixado escapar ou não dão a devida atenção e visibilidade a bons livros escritos por pessoas desconhecidas?
Quais são os seus projectos para o futuro?
Desde que comecei a escrever que guardo as ideias que me vão surgindo. Tenho dezenas de cadernos com esboços que poderão ser desenvolvidos no futuro. Quando concluo um projeto, sinto vontade de fazer algo diferente a seguir. O difícil é decidir que rumo tomar, porque existem várias histórias que chamam por mim … Para já, tenho duas em construção e vou-me dividindo entre elas. Quando o momento certo chegar, uma irá «adormecer» e a outra «desabrochar». Tem sido sempre assim! Haja saúde e o carinho dos meus Companheiros de Aventura, e o desejo de contar histórias nunca se extinguirá.
Essa é uma questão complexa. Acima de tudo, julgo que o maior problema que enfrentamos é o facto de vivermos num país pequeno, com poucos hábitos de leitura, onde a cultura nunca é uma prioridade. É certo que as editoras poderiam apostar mais no trabalho dos autores portugueses… Mas, pensando friamente, uma editora é um negócio como qualquer outro, que busca o lucro para sobreviver. Ou seja, irá sempre publicar aquilo que acha que vai vender. Então, como resolver isto? Talvez a solução esteja nas mãos dos próprios leitores portugueses! Além das dificuldades que já referi, existe no nosso seio a estranha convicção, um incompreensível preconceito, de que os autores estrangeiros são melhores do que os nacionais. Enquanto não isso não mudar, dificilmente a situação irá melhorar! Em conclusão, a procura gera oferta. Se nós, enquanto leitores, começarmos a ter mais curiosidade para explorar o universo dos autores portugueses, e estivermos disponíveis para dar uma oportunidade aos novos talentos da nossa língua, que lutam para se afirmar neste vasto oceano de nomes internacionais, as editoras saberão que existe mercado para arriscar e ficarão mais disponíveis para publicar o que é nosso.
Quais são os seus projectos para o futuro?
Desde que comecei a escrever que guardo as ideias que me vão surgindo. Tenho dezenas de cadernos com esboços que poderão ser desenvolvidos no futuro. Quando concluo um projeto, sinto vontade de fazer algo diferente a seguir. O difícil é decidir que rumo tomar, porque existem várias histórias que chamam por mim … Para já, tenho duas em construção e vou-me dividindo entre elas. Quando o momento certo chegar, uma irá «adormecer» e a outra «desabrochar». Tem sido sempre assim! Haja saúde e o carinho dos meus Companheiros de Aventura, e o desejo de contar histórias nunca se extinguirá.
Agradecemos à Sandra Carvalho por se ter disponibilizado a responder a esta entrevista.
Desejamos-lhe as melhores felicidades e sucesso!
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