Sinopse
Um clássico da literatura feminista
Uma mulher fragilizada emocionalmente é internada, pelo próprio marido, em uma espécie de retiro terapêutico em um quarto revestido por um obscuro e assustador papel de parede amarelo. Por anos, desde a sua publicação, o livro foi considerado um assustador conto de terror, com diversas adaptações para o cinema, a última em 2012. No entanto, devido a trajetória da autora e a novas releituras, é hoje considerado um relato pungente sobre o processo de enlouquecimento de uma mulher devido à maneira infantilizada e machista com que era tratada pela família e pela sociedade.
Opinião
Neste sábado chuvoso de Abril resolvi ler mais um clássico para o meu projecto #12meses12clássicos, e selecionei O Papel de Parede Amarelo, de Charlotte Perkins Gilman.
Simplesmente adorei este conto semi-autobiográfico, que me transportou para a mente de uma narradora que entra numa espiral de insanidade até nos presentear com um final tão perturbador como o sinistro papel de parede amarelo.
Escrito em 1892 por uma feminista, O Papel de Parede Amarelo, é um grito de revolta de uma mulher com depressão pós-parto, retratando tão bem como a sociedade a vê como tendo falhado enquanto mulher, esposa e mãe. A depressão e a doença mental eram então encaradas como fenómenos de histeria e nervosismos excessivos, que facilmente poderiam ser ultrapassados se houvesse força de vontade para tal.
A nossa protagonista e narradora, cujo marido e irmão são médicos, é enviada durante 3 meses para uma casa, de forma a repousar e a respirar ar puro, sem nunca ceder a qualquer estímulo intelectual, pois só assim se poderia curar de uma doença que mais ninguém acredita que ela tenha.
O seu quarto tem vários símbolos de uma prisão, uma janela com grades, uma cama presa ao chão, entre outras particularidades que podem passar despercebidas da primeira vez que lemos este conto. O que mais aflige a narradora é o papel de parede amarelo que aos poucos a vai aprisionando e onde ela se projecta, este papel de parede é ele próprio uma personagem, representando a prisão doméstica, as convenções sociais, o ter de chorar sozinha e esconder o que sente, ter de escrever às escondidas como única forma de alívio. Naturalmente a protagonista tenta libertar-se deste papel de parede, e talvez o consiga, mas a que custo?
No final, uma figura masculina mostra um sinal de fraqueza tão caracteristicamente atribuído ao género feminino, o que é de uma ironia louvável, atendendo à época em que este conto foi escrito.
Sendo um conto, não posso acrescentar muito mais para não desvendar nada que vos tire o prazer de ler esta magnífica obra, repleta de segundos sentidos e que nos imerge num desespero do início ao fim.
Não conhecia o livro, fiquei com vontade de o ler
ResponderEliminarOlá Catarina :) Muito bom! Acompanhe com o audiobook, é qualquer coisa de perturbador ... no bom sentido!
EliminarDesconhecia este título, fiquei muito curiosa!
ResponderEliminarTambém me surgiu por acaso, mas vale muito e pena. E com audiobook é de arrepiar!
EliminarGosto sempre de ler opiniões de livros que não conheço, fiquei com vontade de o ler
ResponderEliminarOlá Isabel :)
EliminarAinda bem que damos a conhecer obras que às vezes passam despercebidas! É um conto muito pequeno mas intenso. Vale a pena :)
Boas leituras ;)