quarta-feira, 6 de abril de 2022

Opinião “Violeta”, Isabel Allende

Sinopse:

Violeta del Valle é a primeira rapariga numa família de cinco irmãos truculentos. Nasce num dia de tempestade, em 1920, quando ainda se sentem os efeitos devastadores da Grande Guerra e a gripe espanhola chega ao seu país natal, na América do Sul.

Graças à ação determinada do pai, a família sairá incólume desta crise, apenas para ter de enfrentar uma outra: a Grande Depressão. A elegante vida urbana que Violeta conhecia até então muda drasticamente. Os Del Valle são forçados a viver numa região selvagem e remota, onde Violeta atinge a maioridade e viverá o primeiro amor.

Décadas depois, numa longa carta dirigida ao seu companheiro espiritual, o mais profundo amor da sua longa existência, Violeta relembra desgostos amorosos e apaixonadas relações, momentos de pobreza e de prosperidade, perdas terríveis e alegrias imensas. A sua vida será moldada por alguns dos momentos mais importantes da História: a luta pelos direitos da mulher, a ascensão e queda de tiranos, os ecos longínquos da Segunda Guerra Mundial.

Contado a partir do olhar de uma mulher determinada, de paixões intensas, com uma vida plena de sobressaltos, Violeta é um romance épico, inspirador e emotivo, ao melhor estilo de Isabel Allende.


Opinião:

Foi com enorme curiosidade que enveredei nesta leitura. Já tinha ouvido falar muito bem de Isabel Allende, principalmente do seu primeiro livro – A Casa dos Espíritos -, mas nunca tinha lido nenhum livro da autora. E agora que terminei Violeta, consigo compreender e reconhecer o seu mérito.

Para começar, Violeta – classificado como um romance, é um livro extremamente suis géneris. Confesso que nunca li nada do género, mas primeiro estranha-se e depois entranha-se. A narrativa desenrola-se ao longo dos 100 anos de vida desta nossa personagem principal – Violeta – uma mulher como não haverão muitas. Serão sempre poucos os adjetivos que use para a descrever: corajosa, com uma mentalidade muito aberta, com ideias intemporais e muito à frente daquilo que eram os princípios e valores em que se acreditava durante estes 100 anos.

Fiquei logo presa ao livro em 1920, onde acompanhamos Violeta e a gripe espanhola. E é tão engraçado o deja vu, ver que hoje vivemos uma pandemia que não será assim tão distinta da gripe espanhola, a semelhança nas medidas tomadas e nos receios da população.

Trata-se de uma obra extremamente rica, e seria impossível para mim não lhe atribuir as 5 estrelinhas. Penso que independentemente dos gostos literários de cada um, qualquer leitor consegue reconhecer isto e provavelmente não achará merecedor de menos de 4 estrelas. Se muitas vezes falamos na capacidade de contar histórias, na brilhante descrição de personagens em vários livros que lemos, com Isabel Allende sabemos que podemos contar com tudo isso.

Apesar de o livro ser escrito sob a forma de carta a Camilo – o maior amor de Violeta -, é impressionante aquilo que estas 358 páginas nos conseguem transmitir. São inúmeras as personagens que nos são apresentadas, de uma forma única e irrepreensível, sendo impossível ficar indiferente àquilo que lhes acontece ao longo da narrativa.

Relativamente aos temas abordados, mais uma vez, a autora é brilhante! Desde a gripe espanhola em 1920 como já referi até à Pandemia por COVID-19 em 2020 (ano em que termina a história), são ainda abordados temas como a homossexualidade, os golpes de estado, a ditadura e a democracia, o consumo de drogas, a liberdade do pensamento, e o feminismo. Quem diria que seria possível pincelar tudo isto num só livro? Pois é, atrevam-se a conhecer a história de vida de Violeta e vão ver como tenho razão!

E escrevo, escrevo e escrevo e nunca serão suficientes as minhas palavras para descrever bem a obra. Resta-me dizer que gostava de ser e viver como Violeta – viver intensamente até ao fim.

Deixo por fim o meu obrigada à Porto Editora que gentilmente me cedeu um exemplar para leitura e opinião. 

E porque as minhas palavras nada são, comparando com as de Isabel Allende, deixo ainda aqui um excerto da obra:


“Há um tempo para viver e um tempo para morrer. Entre ambos, há tempo para recordar. Foi isso que fiz no silêncio destes dias em que pude escrever os pormenores que me faltavam para completar este testamento, que é mais de sentimentos que de assuntos materiais. Há vários anos que não escrevo à mão, a minha letra é ilegível, perdi a elegância de antes ... mas a artrite não me impede de usar o meu computador. Zombas de mim, Camilo, dizes que sou a única centenária moribunda que está mais atenta ao computador do que a rezar.

Nasci em 1920, na pandemia da influenza, e vou morrer em 2020, na pandemia do coronavírus. Que nome tão elegante para um bicho tão maligno. Vivi um século e tenho na memória, além de 70 e tal diários e milhares de cartas para provar a minha passagem pelo mundo ...

... O mundo está paralisado, e a humanidade em quarentena. É uma estranha simetria que eu tenha nascido numa pandemia e vá morrer noutra ... Não posso receber visitas, o que me permite despedir-me pouco a pouco e em paz. Em todo o lado, parou a atividade e reina a angústia, mas aqui, em Santa Clara, nada mudou: os animais e a vegetação não sabem do vírus, o ar é puro, e é tão profunda a calma que, da minha cama, consigo ouvir os grilos da lagoa ao longe.”


Convencidos?
Se nunca leram Isabel Allende, façam como eu, nunca é tarde para começar. E se já leram e gostaram, continuem.


🌟🌟🌟🌟🌟




Para mais informações, consultem o site da Porto Editora aqui.

6 comentários :

  1. Peguei neste livro ontem quando fui à biblioteca. Vou ver se o trago numa das próximas vezes.

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    1. Acho que deves Diana! :)
      Como disse, nunca tinha lido nada da autora. Mas é uma escrita que nos envolve mesmo e a maneira como ficamos a conhecer cada personagem é mesmo brilhante.
      Vou sem dúvida ler mais livros da autora!
      Um beijinho,
      Rosana

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  2. Livro oferecido no meu aniversário, á espera de ser lido. Agora que li opinião, estou com mais vontade de o ler

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    1. Que sorte Isabel! :)
      Já não me lembro da última vez que recebi um livrinho de prenda :), mas é ótimo! Fico contente por ter aumentado a tua vontade de o ler!
      Gostei muito!
      Um beijinho,
      Rosana

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  3. Fiquei curiosa ao ler a opinião sobre este livro

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    1. Olá Catarina! :)
      Acho que Isabel Allende é uma autora que vale a pena ler. Mas dizem que o melhor livro dela é mesmo o primeiro - "A Casa dos Espíritos".
      Um beijinho,
      Rosana

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