“Preciso de falar. Já há muito que não falo com ninguém. Se estou maluco, estou maluco e pronto. Tenho andado para aí como uma alma penada, a visitar as casas dos vizinhos, de noite. A do Peter, a do Jacob, a do Rance, a do Joad, e estavam todas escuras como tocas miseráveis de ratos. Mas houve lá bons jantares e bailes; rezas e cânticos sagrados. Houve casamentos em todas essas casas. Quando me lembrava disto, apetecia-me ir à cidade e dar cabo de uma porção de gente. Que é que eles vão ganhar, expulsando-nos da terra com o trator? Que fazem eles para que lhes fique a tal margem de lucro? Escorraçaram-me do terreno onde meu pai morreu, onde Joe soltou o primeiro vagido e da mata onde eu de noite espinoteava como um bode. Que lucram eles? Deus sabe que a terra não presta. Há anos que ninguém consegue uma colheita. Mas esses filhos da mãe, à secretária, acabaram por cortar-nos ao meio por causa da sua margem de lucro. É isso: cortam-nos ao meio. O lugar onde as pessoas viveram, isso é que é a família. Agora, sozinhas na estrada, as pessoas, num carro apinhado de gente, já não são bem elas. Já não estão vivas. Esses filhos da mãe, mataram-nas.”
As Vinhas da Ira, John Steinbeck
E é por isso que não há nada que substitua ou se assemelhe à leitura.
Ainda no início desta obra, mas posso já dizer que está a ser maravilhosa.
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