quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Opinião - "Expiação", de Ian McEwan

Sinopse

"No dia mais quente do Verão de 1935, Briony Tallis, de 13 anos, vê a irmã Cecilia despir-se e mergulhar na fonte que existe no jardim da sua casa. 
É também observada por Robbie Turner, um amigo de infância que, à semelhança de Cecilia, voltou há pouco tempo de Cambridge. Depois desse dia, a vida das três personagens terá mudado para sempre. Robbie e Cecilia terão ultrapassado uma fronteira que, à partida, nem sequer imaginavam e tornar-se-ão vítimas da imaginação da irmã mais nova. Briony terá presenciado mistérios e cometido um crime que procurará expiar ao longo de toda a sua vida. 
Expiação é, porventura, a melhor obra de Ian McEwan. Descrevendo de forma brilhante e cativante a infância, o amor e a guerra, a Inglaterra e a situação de classes, contém no seu âmago uma exploração profunda - e muito comovente - da vergonha, do perdão, da expiação e da dificuldade da absolvição.
Nomeado para o Booker Prize e para o Whitbread Award 2001."


 

Opinião

Expiação, de Ian McEwan, é uma obra complexa. Um romance histórico que não se foca nos acontecimentos, mas sobretudo na complexidade das acções das suas personagens.
Tem início na pré-adolescência de Briony Tallis, que presencia um acontecimento que, amplificado pela sua vívida imaginação, instinto de protecção fraternal e tendência para o drama inerente à fase da vida que atravessava, a levou a algo que a assombrou para o resto da vida, e alterou irrevogavelmente as vidas de todos os envolvidos.


A acção desenrola-se ao longo de vários anos, e várias fases da vida das personagens são relatadas. O livro foca-se não só no evento, mas no que vem depois: na mágoa, no sofrimento, na culpa e nas relações entre todos, que se alteram para sempre, não esquecendo que mesmo quando algo terrível acontece, a vida continua. Para mim, é esse um dos aspectos mais interessantes do livro, o "depois". O lidar com o fardo constante de um castigo imerecido, seja por via do julgamento do tribunal e da sociedade, ou da própria consciência.
 
Este é um caso em que vi o filme (realizado por Joe Wright, um dos meus realizadores preferidos) antes de ler o livro, na altura em que saiu, mas lembrava-me já de tão pouco, que o que restou, para além das linhas gerais da história, foi pouco mais para além da cor do vestido de Cecilia. De facto, esta obra é bastante descritiva, e existe um motivo pelo qual certos elementos do filme são tão realçados. Desde a propriedade da família Tallis até ao caminho de Briony num dos seus dias de folga, passando pela cena central do livro e pela obra escrita por Briony, o autor não é poupado nas descrições. No entanto, é um aspecto que aprecio, uma vez que dá a oportunidade de ter a noção da forma como as personagens vêem o mundo que as rodeia, e neste caso só enriquece a história, forte só por si.


Gostei também do facto de aproveitar o contexto histórico no qual se insere, descrevendo várias personagens e situações representativas de muito sofrimento, sobretudo sob o ponto de vista de Briony e Robbie. São situações difíceis também para as personagens principais, sendo que o evento que lhes mudou a vida não só não deixa de estar presente, como foi o que os dirigiu até àqueles momentos.
 
Sem querer revelar demasiado sobre a última das partes do livro, não posso deixar de referir o peso com que me deixou, no melhor dos sentidos. No que diz respeito à história relatada em grande parte livro, o final é como um final de um grande romance deve ser. No entanto, a vertente realista da obra acaba por levar a melhor. Não pretende ser o típico romance de flores e passarinhos, e o próprio final é complexo e interessante. Deixa-nos com um peso, mas ao mesmo tempo conforto por saber que, conforme os anos passam, as personagens vão lidando com as feridas que têm da melhor maneira que conseguem (sarando-as ou, na vida real, por vezes não). É uma característica que aprecio nos livros. Pode não acabar bem, mas o final de um livro não tem de ser preto ou branco. Pode ser satisfatório sem ser ideal. Afinal, é assim a vida real, e esse aspecto é que torna interessantes as histórias da vida das pessoas. O que se passa nos livros, a meu ver, não é diferente.

 


8 comentários :

  1. Este foi dos filmes que mais gostei de ver e que me tocou bastante, mas não li o livro.
    Gostei do POST.. beijinhos, Roberta :)

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    1. Olá Roberta!

      O filme é visualmente muito bonito, e a história não fica atrás.
      Obrigada! :)

      Boas viagens,
      Isabel

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  2. Tenho curiosidade quer em ler o livro, quer em ver o filme! ;)
    Beijinhos!

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    1. Olá Carolina!

      Ainda terei de rever o filme, à luz do livro. Mas este merece mesmo ser lido.

      Boas viagens,
      Isabel

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  3. Respostas
    1. Olá Fiacha!

      Concordo totalmente, e espero daqui a uns anos ter a oportunidade de o reler.

      Boas viagens,
      Isabel

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  4. Olá!

    Um livro muito interessante. Gostei bastante, apesar de ter um grande ódio à Briony. O filme também está muito bem. É daquelas histórias que, a meu ver, tanto o livro como o filme estão adequados. E claro, o James McAvoy está excelente!

    Já estou a seguir.
    Se quiseres seguir o meu:
    http://oimaginariodoslivros.blogspot.pt/

    Bjs e boas leituras

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    1. Olá Maria!

      Briony desperta em mim sentimentos contraditórios, talvez por me identificar em certa medida com o seu lado imaginativo e fantasioso. Só um bom livro consegue pôr o leitor a questionar-se tanto sobre este tema da culpa, sem precisar de recorrer a personagens unidimensionais. :)

      Vamos seguir também! :)

      Boas viagens,
      Isabel

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