sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Posso Perguntar? Posso? - com Célia Loureiro



Sobre o autor:

Célia Correia Loureiro nasceu em Almada, em 1989. Licenciou-se em Informação Turística pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, mas garante que a sua vocação é a escrita. Desde cedo começou a contar histórias através de ilustrações. Aos doze anos leu o seu primeiro romance e, desde aí, não parou de ler nem de escrever. Com algumas obras terminadas, apresenta-se aos leitores através da Alfarroba com "Demência" em Nov. de 2011 e, em Out. de 2012 lança, pela mesma chancela, "O Funeral da Nossa Mãe".




Entrevista:

Quando é que começou a escrever? 

Quando aprendi a ler. Tinha uma necessidade absoluta de inventar coisas e tinha plena noção de que não era aceitável na vida real. 

Sempre se dedicou à leitura e à escrita? O que a fez começar a escrever? 

Sim, não vale a pena tentar fugir ao cliché. Quando era pequena só os livros me entretinham e me mantinham quieta. Mais tarde, sem tecnologias ao meu dispor, foi-me natural usar a imaginação para escrever. 

Qual é o primeiro livro que se recorda de ler? 

Natal de 2002, A Dádiva, da Danielle Steel. Foi a primeira vez que li um romance. Não me é querido pelo enredo, nem pela autora, mas sim porque foi o primeiro de muitos e algum prazer retirei dele, posto que não desisti da literatura logo ali. 

Qual é o próximo livro na sua lista de leitura? 

Acabei agora mesmo O Cavalheiro Inglês da Carla M. Soares. Ainda não estou certa do que continuarei a ler… A acenar-me da estante estão o Outlander, Nas Asas do Tempo, ou talvez o Xeque ao Rei, da Joanne Harris. 

Quais são os seus livros preferidos? E autores? 

Os meus autores e os meus livros preferidos não se encontram. Os meus autores favoritos são, até hoje e quase na totalidade, aqueles que me fizeram feliz quando comecei a ler. Tinha acesso à biblioteca da minha prima e por isso li várias obras da Joanne Harris, da supra-mencionada Danielle Steel, da Sveva Casatti Modignani, de autores hispano-americanos, como Laura Esquível e Isabel Allende. E, claro, Nicholas Sparks. Destes, apenas a Allende, a Esquível e a Joanne ficaram no meu peito. Mais tarde o Sommerset Maughan e o Philippe Claudel juntaram-se-lhe. Depois há o meu livro favorito, E Tudo o Vento Levou da Margarett Mitchel, que apenas escreveu esse em vida e arrecadou logo o Pulitzer. Além deste há o amor torturado de O Monte dos Vendavais e a doçura atormentada de A Praia do Destino. 

Qual a melhor companhia para um livro? Um café, a praia, o quentinho do sofá? 

A melhor companhia para um livro é a vontade. Quando há entusiasmo, um transporte público, um carro parado no trânsito, ou mesmo no caminho de casa para o trabalho (sim, leio a caminhar) são perfeitos momentos de evasão. Não acredito em ninguém que me diga que não tem tempo para ler. 

Que autores influenciaram a sua escrita? 

Não sei se respondo com veracidade. Não penso em ninguém quando escrevo, não revejo o meu livro no de nenhum autor… Escrevo o que gostaria de ler, mas talvez a Anita Shreve seja a minha maior influência, porque lhe invejo muitas características que gostaria de chamar para os meus livros também; a humanidade é a mais evidente. 

O que a inspirou ao escrever A Filha do Barão? 

A magnífica História de Portugal, os inúmeros momentos que precisam de ser levados aos portugueses através não apenas dos manuais escolares, mas das séries televisivas e dos livros. Para serem mais do que cultura; entretenimento. 

Como foi a pesquisa histórica para A Filha do Barão? 

Exaustiva, tão cansativa que me está a custar passar pelo mesmo para dar continuação a essa obra, posto que a mesma a exige. 

Qual a sua época preferida da história portuguesa? 

O momento é o terramoto de Lisboa de 1755, sem dúvida. Se tivesse de escolher um século seria o XIX. As Invasões Francesas, as Guerras Liberais, as inúmeras epidemias, as descobertas científicas nos campos da saúde, da medicina, a Revolução Industrial em força, os caminhos-de-ferro, os neos, o romantismo, a mudança no pensamento da sociedade, o Ultimato Inglês e os novos movimentos políticos… É um século com mil e uma mudanças fascinantes para quem ama História como eu. 

Como tem sido a reacção dos leitores ao seu livro? 

Muito boa, devo dizer. Até agora ainda não recebi nenhuma crítica “negativa”. Todas são construtivas e contribuem para que melhore. Se o conteúdo está bom, perfeito, embora possa sempre ser melhorado e eu seja perfeccionista. Houve um momento em que descobri que em determinado dia (aquando da Invasão do Porto), chovia. Reformulei a cena para garantir que estava a chover, que os tecidos, os rostos, o piso denunciavam essa mesma chuva. Os leitores dizem-me que tenha cuidado com o modo como exponho essa informação, o ritmo, a quantidade, a densidade com que escrevo. Pedem-me que faça mais parágrafos, e eu acedo, eheh! 

Gostava de ver A Filha do Barão adaptado ao cinema/televisão? 

Muito. Já me permiti essa quimera várias vezes, não digo no cinema, mas imaginem só, uma mini-série da RTP com a minha Mariana e o Daniel! Estaria ansiosa por ver a cena em que os franceses entrassem Porto adentro e a Ponte das Barcas cedesse. Seria uma telespectadora atenta. Tenho pena que exista essa lacuna na televisão Portuguesa. Os brasileiros são tão bons em séries, novelas de época! E a nossa História tão rica e negligenciada.

Já alguma vez se deparou com alguém a ler A Filha do Barão por exemplo num transporte público ou outro local? Como se sentiu? 

Eu não, mas a minha prima e uma amiga minha sim. Se me deparasse acho que não me calava. A surpresa seria tão grande que haveria de pôr-me a rir e a tagarelas de tal modo que o leitor nunca acreditaria que esta mona fosse a autora de algo mais elaborado do que um Post-it. 

Quando escreve vai mostrando a alguém ou só no final pede opinião? E quem é a primeira pessoa a quem mostra o seu trabalho? 

A primeira pessoa a ver o meu trabalho é a que se mostrar entusiasmada. Não pensem que é fácil encontrar leitores para uma obra em construção, mas tenho tido alguns e sim, ajudam bastante, sobretudo a entender a percepção que o leitor obtém daquilo que pretendíamos dizer. 

Considera que se aposta nos autores portugueses ou que as editoras tem deixado escapar ou não dão a devida atenção e visibilidade a bons livros escritos por pessoas menos conhecidas? 

Há um ano atrás diria que as editoras negligenciam os autores portugueses. Menos quando uma editora é sinónimo de qualidade, não há muitas assim no país, não é fácil abrir a carteira por um livro anónimo de um Joaquim Periquito. A Marcador orgulha-me por apostar nos escritores portugueses. 

O que diria a alguém que se estiver a iniciar como autor? 

Que não tenham pressa e que sejam os principais juízes da sua obra. 

Quais são os seus projectos para o futuro? 

A nível literário? A continuação de A Filha do Barão, a continuação da continuação de A Filha do Barão, um romance mega-trabalhoso (farejo-o) sobre o terramoto de Lisboa de 1755 e outro contemporâneo, que me permita livrar-me de tanta pesquisa exaustiva por algum tempo. O problema é que os livros são como casas assombradas. Um leva a outros, e que fazer com os fantasmas? Agora tenho o fantasma de uma mulher muito jovem a padecer de uma doença psiquiátrica a implorar-me para escrever sobre ela. Como posso pedir-lhe que espere para que eu escreva três romances históricos antes?


Agradecemos à Célia por se ter disponibilizado para esta entrevista! Desejamos-lhe as maiores felicidades e sucesso!

2 comentários :

  1. Fiquei muitíssimo mais curiosa por ler o livro depois de ler esta entrevista do que anteriormente pela sinopses e opiniões que já li por ai.
    Excelente trabalho de ambas as partes!
    Este livro vai já para a minha lista ;)

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