domingo, 23 de fevereiro de 2020

Opinião "O Alienista", Machado de Assis


Sinopse

"Quando o Dr. Simão Bacamarte, médico psiquiatra, homem da ciência, constrói um asilo em Itaguaí, nada faria prever os acontecimentos que lhe sucederam. "Eram furiosos, eram mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito." Mas quem eram, afinal, os loucos? Neste conhecido conto da literatura brasileira, Machado de Assis reflete sobre a fronteira entre a sanidade e a loucura, ao mesmo tempo que constrói um retrato crítico da sociedade da época."


Opinião

O Alienista, um clássico da literatura brasileira, publicado em 1882 por Machado de Assis, apresenta-nos, num tom irónico e repleto de humor, o Dr. Simão Bacamarte, o médico dos alienados. O Dr. Simão, formado na Europa e de uma credibilidade inquestionável, tem, inicialmente, uma dedicação de louvar à sua obra, a construção de um manicómio na pequena cidade de Itaguaí, no Rio de Janeiro. (Mas atenção esta novela poderia ter lugar em qualquer parte do mundo!)

O alienista pretende com este seu asilo estudar a mente humana, e quiçá curar os mais variados distúrbios psiquiátricos. No entanto, o nosso protagonista, a personificação da objectividade, da ciência e da razão, começa a ficar obcecado e a identificar traços de loucura em quase toda a população, enchendo de tal forma o seu cárcere que acaba por se questionar se não será a normalidade a verdadeira loucura.

Este livro escrito em jeito de conversa com o leitor é uma leitura muito rápida e fácil, excluindo alguns vocábulos que não faziam parte do meu léxico e que tive de procurar o seu significado. Li O Alienista para o desafio #24horas1livro da booktuber Silvéria - The Fond Reader e, por isso, se quiserem acrescentar um clássico rápido à vossa lista de leitura este é o livro perfeito para tal, conduzindo-vos a um par de horas muito prazeroso.

Escrito numa altura em que a ciência dava grandes saltos e começava a ser mais inquestionável que os dogmas religiosos, este livro é uma chamada de atenção para os perigos da visão em funil e do poder absoluto da ciência. A ciência sempre cheia de boas intenções, como as tinha o Dr. Simão, foi também ela responsável por grandes erros e desgraças. Como outra qualquer invenção do Homem, a ciência será sempre construída à sua imagem e semelhança, impossibilitada assim de se isentar dos seus defeitos. De verdade absoluta em verdade absoluta devemos sempre questionar a relatividade da ciência.

A par deste tópico central, Assis deixa outras críticas sociais nas entrelinhas, como a fácil manipulação do povo, o sempre interesseiro poder político, os defeitos e as virtudes de todos nós e como eles se equilibram na balança da sanidade mental.

O que é o normal? O que é a loucura? O Alienista não conseguiu responder a estas perguntas, mas alguém consegue? 
 

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