quarta-feira, 8 de abril de 2020

Opinião “Memórias Esquecidas”, Jodi Picoult

Sinopse: 

“Delia Hopkins tinha seis anos quando o pai a deixou ser sua assistente num espetáculo de magia. " Aprendi muito nessa noite… Que as pessoas não se evaporam no ar". Uma lição que agora, já adulta, confirma todos os dias: a profissão de Delia, na verdade, é encontrar pessoas desaparecidas com a ajuda do seu cão fiel. Gosta do trabalho e também da vida que leva. Apesar de ter perdido a mãe quando ainda era criança, foi criada pelo pai com amor e agora está prestes a casar com o companheiro com quem vive há muito tempo e de quem tem uma filha. Mas, na véspera do casamento uma coisa inesperada e chocante acontece: o seu pai é preso pela polícia sob a acusação de ter raptado Delia à mãe que esta julga ter morrido num acidente de automóvel. Numa dramática inversão de situações e de emoções, privada das suas certezas e do seu passado, Delia inicia uma busca dolorosa da verdade que lhe escapa, porque cada um tem a sua verdade, e porque às vezes amar e proteger uma pessoa também pode obrigar a mentir...” 


Opinião: 

Já queria ler há bastante tempo algo de Jodi Picoult. As opiniões que fui vendo deixavam em mim sempre alguma curiosidade para a leitura. E foi com Memórias Esquecidas que me estreei com esta autora. 

Já não lembrava de ler um livro como este (falha da minha parte claro) – um livro com várias páginas, sem aquele ritmo frenético de leitura. Já não me lembrava o que era sentar-me e simplesmente ler, sem esperar algo em troca, sem ansiar necessariamente pelo fim! Se por um lado isto pode ser um ponto desfavorável na obra, o seu passo mais lento, a verdade é que foi importante para me lembrar que para ler, não adianta ter pressa, porque as palavras devem ser saboreadas! 

Falando do livro propriamente dito: sui generis! Na sua capa encontramos uma frase que o descreve muito bem – “São precisas duas pessoas para criar uma mentira, aquela que a conta e aquela que acredita …”. A história desenrola-se essencialmente em torno de quatro personagens: Andrew Hopkins, um pai dedicado e que criou a sua filha sozinha, depois de a deixar acreditar que a mãe tinha morrido, Delia Hopkins, a filha, Erik, o seu noivo, e Fitz o melhor amigo de Delia. E capítulo a capítulo, vamos percebendo a vida de cada uma delas e as mentiras por elas criadas. 

Ao longo da narrativa percebemos o quanto cada uma das personagens ama Delia Hopkins e tudo que faz e fez por ela! Percebemos que ninguém é, foi ou será perfeito. Percebemos que estas páginas podiam muito bem ser inspiradas numa história real. Se há algo que encontramos aqui são personagens muito imperfeitas! Decisões erradas! Impulsos errados! Injustiças! Agora que olho para trás e penso, não sei exactamente porque fiquei um pouco triste no fim, já sabia que a vida era injusta! 

Com a narração na primeira pessoa por cada uma das personagens, a autora faz com que o leitor crie empatia, com mais algumas personagens que outras, como seria de esperar. E se percebi o desenrolar da narrativa, assim como o desfecho, ficou em mim um sentimento de tristeza / compaixão por uma das personagens. Não querendo desvendar mais do que o que devo, alguém teve que sair menos bem de toda a situação – e eu estava a torcer por esse alguém (se é que torcer se aplica a esta situação). 

Depois de 438 páginas ficamos sem saber o que é certo e o que é errado, que às vezes é tudo uma questão de perspectiva e que nem sempre a pessoa que mais se esforça, e que mais luta é a que vence! No entanto, quando se ama alguém, nem isso é importante! Fazemos tudo o que se encontra ao nosso alcance por essa pessoa! 

Assim, é-me muito difícil traduzir em palavras tudo o que senti sem revelar pormenores da história. Não foi uma leitura arrebatadora, mas foi uma leitura necessária e que me deu prazer! Uma leitura que nos relembra que não adianta acharmos que os nossos princípios são os mais acertados do mundo, nem que somos suprassumos do certo e do errado. Uma leitura que nos lembra que podemos ser influenciados negativamente pelo nosso passado, e que isso pode decidir a nossa vida para sempre. Uma leitura que realça que na base de tudo o que vivemos, mesmo por detrás das inúmeras mentiras, pode existir algo bem mais poderoso – o amor e o perdão.


"Quando as pessoas que amamos fazem escolhas, nem sempre as compreendemos. Mas podemos continuar a amá-las da mesma forma. Não é uma questão de compreender, mas sim de perdoar."
Jodi Picoult



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