Voltamos com a nossa rúbrica Posso Perguntar? Posso?, desta vez com a autora Sara Rodi, cujo nome já viram por cá, a propósito do seu livro O Quanto Amei, da Planeta, que desde já recomendamos!
Se ficaram curiosos venham conhecer um pouco mais sobre esta escritora!
Sobre a autora:
Licenciada em Ciências da Comunicação, dedicou os últimos 20 anos à escrita como autora de mais de quarenta livros e argumentista em diversos produtos televisivos. Durante dez anos, dedicou-se também ao ghostwriting e à elaboração de biografias personalizadas com tiragens limitadas, através da sua empresa “O Livro da Minha Vida”. Experimentou a apresentação em "Tenho um bebé. E agora?", no canal de saúde S+, com 5 temporadas emitidas, e foi co-fundadora do movimento "Por Uma Escola Diferente", participando como oradora e moderadora em encontros dedicados à parentalidade, educação, saúde e sustentabilidade. Escreve também com frequência para a imprensa sobre os temas que a movem.
Instagram: sararodi.oficial
Facebook: @SaraRodiOficial
Entrevista:
Quando é que começou a escrever? E o que a fez começar a escrever?
A escrita entusiasmou-me desde a minha primeira história, que escrevi com seis anos com a ajuda da minha mãe, a partir de um sonho que tive. Sempre me lembro de ter a cabeça cheia de enredos e personagens, que a escrita me permitia não só registar no papel, como também partilhar com aqueles a quem as minhas histórias pudessem interessar. Não tinha o dom de as saber contar com palavras ditas, mas na palavra escrita encontrei um caminho para expressar exatamente o que queria, da forma que sentia. Era um processo lento e trabalhoso, mas a satisfação de encontrar as palavras certas conjugadas da forma que ressoava em mim (e eu acreditava que poderia ressoar nos outros), era imensa. E nunca mais parei de escrever. Passou a fazer parte da minha vida, como comer ou respirar.
Qual o primeiro livro que se recorda de ler? E o próximo na lista?
Lembro-me de muitos que marcaram a minha infância, mas não sei pô-los por ordem. Cresci com Alice Vieira, Ana Maria Magalhães e a Isabel Alçada, Condessa de Segur, Enid Blyton... A minha irmã era quatro anos mais velha do que eu, o que me permitiu ter acesso a todos estes livros, e depois a outros, muito cedo.
O próximo da lista ainda não sei qual será – tenho vários na mesinha de cabeceira à espera de vez –, mas neste momento ando a ler (e a gostar muito!) “Apneia”, de Tânia Ganho, e “O Infinito num Junco” de Irene Vallejo.
Quais os seus livros preferidos e autores?
Já passei por várias fases - até porque acredito que os livros nos podem tocar de maneiras distintas em diferentes momentos da vida - mas o meu escritor de eleição é Saramago. A forma como escrevia (numa simplicidade tão profunda!), os temas que abordava, as personagens que construía... Não me lembro de um romance dele que me tenha desiludido, e esperava sempre pelo livro seguinte com uma enorme expectativa. Quando soube da morte dele, lembro-me de pensar “E agora espero pelo livro de quem?” Descobri, entretanto, muitos outros autores – uns quantos portugueses – que admiro e acompanho enquanto leitora, mas Saramago deixou-me a sua marca.
Sempre gostei muito de Fernando Pessoa poeta, nos seus diferentes heterónimos, e o Livro do Desassossego desassossegou-me verdadeiramente, no melhor sentido. Mas a vontade de escrever sobre Fernando Pessoa só começou a surgir quando descobri, por acaso, a carta que ele escreveu à sua tia Anica a falar-lhe das suas experiências mediúnicas. Perguntei-me quem seria esta tia com quem ele parecia ter tanta afinidade, falando-lhe de experiências tão íntimas, e acabei por descobrir um conjunto de mulheres da sua família com quem ele viveu uma boa parte da sua vida, e que terão, seguramente, influenciado a sua obra. Já para não falar das mulheres por quem Fernando Pessoa se apaixonou, e mulheres do seu tempo com quem se cruzou. Era preciso desmistificar essa ideia de um Fernando Pessoa solitário, com uma única paixão.
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Há ainda muito a desvendar sobre este nosso Poeta?
Acredito que sim. Como demorei sete anos a pesquisar, escrever e rever este livro, fui acompanhando tudo o que ia surgindo de novo: novos papéis decifrados, documentos encontrados... e tive de refazer o livro algumas vezes à custa disso, porque alguns elementos vão mudando a nossa perceção sobre Fernando Pessoa. A correspondência trocada com Madge (agora apontada como a última paixão do poeta) e a descoberta da ata do prémio Antero de Quental, a que Fernando Pessoa concorreu com “Mensagem”, são dois exemplos disso mesmo. E acredito, sim, que ainda há muito por revelar...
Se os heterónimos de Fernando Pessoa, pelo menos os mais conhecidos, se sentassem para conversar, qual acredita que seria o assunto?
Gostava de os ouvir falar sobre o próprio Fernando Pessoa, porque não creio que tenham sido apenas eles a valerem-se da mão do poeta para se escreverem (assumindo essa estranha visão da heteronímia). Fernando Pessoa também se valeu deles para se proteger de reações menos positivas. Acho que resultaria numa conversa muito interessante, mas deixo-a para quem conhece mais a fundo os heterónimos.
“Tabacaria”, de Álvaro de Campos. Leio-o sempre com surpresa, como se fosse a primeira vez, entendendo (ou achando que sim) aspetos diferentes. De Pessoa ortónimo talvez salvasse “Não sei quantas almas tenho”.
Algum projeto para o futuro que possa revelar?
Estou neste momento a trabalhar numa série televisiva, num novo volume da coleção “As Gémeas” e a pensar no meu próximo romance.
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