Opinião "Contos da Montanha", Miguel Torga

Sinopse

Miguel Torga publicou em 1941 o livro de contos Montanha, que imediatamente foi apreendido pela polícia política. Em carta de Abril desse ano, Vitorino Nemésio, solidarizando-se com o amigo, escreveu a propósito dessa apreensão: «Acho a coisa tão estranha e arbitrária que não encontro palavras. De resto, para quê palavras se nelas é que está o crime?» Mais tarde, em 1955, Miguel Torga fez uma segunda edição no Brasil, com o título Contos da Montanha. A edição da Pongetti circulou clandestinamente em Portugal, assim como a 3.ª edição, de 1962. Em 1968, a obra Contos da Montanha foi de novo publicada em Coimbra, em edição do autor.

Opinião 

Contos da Montanha, de Miguel Torga, é um livro delicioso que nos leva numa viagem no tempo a um Portugal que existe cada vez menos. Miguel Torga conta-nos histórias sobre o povo das aldeias transmontanas e fá-lo com uma mestria que nos envolve e comove, cada conto é único, mas todos eles são carregados de uns laivos de tristeza e saudade, sentimentos tão portugueses.

Estes contos trazem consigo a essência do Portugal rural retratando o quotidiano das aldeias portuguesas com todos os seus costumes e crenças. Gostei naturalmente mais de uns contos do que outros, mas sem dúvida que Maria Lionça, que nos fala de uma mãe que transporta o filho morto nos seus braços numa viagem de comboio, e O Cavaquinho, que nos faz desejar abraçar um filho que anseia um presente do pai e que o recebe envolto em tragédia, foram os meus preferidos mas não os únicos a fazerem marejar os meus olhos. 

Este pequeno livro é empatia colocada em palavras, é sentirmos o tanto que estas personagens sentem e é como se um dos nossos avós nos estendesse a mão para o acompanharmos enquanto nos conta uma história da sua terra.