Sinopse:
"Uma mulher prestes a completar 30 anos está no aeroporto de Barajas à espera do voo para Lisboa. Tem um bloco de notas e um lápis, pelo que começa a registar tudo o que vê ao redor, assim como o muito que tem por resolver. Num monólogo intimista e cru, sem cair no politicamente correto, os pensamentos desta mulher ameaçam fundir-se com os do leitor comum.
«— Pai, alguma vez pensaste, um dia que morresses, se querias ser enterrado ou cremado?
— Cremado é bom.
Pestanejei, ele disse aquilo com imensa convicção.
— Ah é?
— Cremado, com uma cebolinha refogada, no Fausto é barato — é o restaurante onde íamos buscar cozido ao domingo, às vezes. (...) — Mas eles são uns chulos.»"
Opinião:
Para quem não sabe, a Célia Correia Loureiro ocupa um lugar muito especial aqui no Bloguinhas Paradise. Desde o início do blog que fomos descobrindo novos autores portugueses, através da leitura das suas obras, e através da nossa rubrica “Posso Perguntar? Posso?”. E, posto isto, achava eu que conhecia a Célia!
O que é que sabia e sei? Sei que é uma escritora brilhante, onde nenhuma palavra sai fora do sítio, nenhuma frase tem menos significado que outra, nenhuma frase tem falhas na sua estrutura, nenhuma frase fica vazia de sentimento.
Foi através da Célia que nasceu o meu gostinho por romances históricos, e, A Filha do Barão e Uma Mulher Respeitável ocupam, de facto, um lugarzinho especial na minha estante. Estão em falta O Funeral da Nossa Mãe (já a aguardar leitura cá em casa), Demência e Os Pássaros (que ainda não consegui infelizmente adquirir). E, confesso que após essas leituras não estava à espera de uma leitura como esta última: tão diferente, tão singular, tão inexplicável.
Com a escrita da Célia, como seria expectável, tive uma leitura essencialmente visceral, onde tudo o que lia, tanto era da Célia como meu. E, se sempre achei que a autora tinha poder nas suas frases, com esta leitura não tenho qualquer dúvida. Independente do tema, seja ele feliz, triste, revoltante, a mensagem chega sempre cá.
Agora que estou a pôr em palavras esta minha humilde opinião, sinto-me de certa forma anestesiada e com dificuldade em transmitir o que quero por palavras, no entanto, vou esforçar-me.
Para quem não sabe, sou médica, e a minha especialidade é a Medicina Interna. Fiz estágio de três meses em Oncologia Médica, e os doentes com patologia do foro oncológico fazem parte do meu dia-a-dia. Talvez por isso, o facto de muito desta obra estar relacionado com este tipo de doenças na família da personagem principal não me tenha propriamente chocado ou surpreendido. O que me tocou sim foi a voz desta personagem, aquilo que eu vejo todos os dias na voz de alguém do outro lado.
Através da nossa personagem principal que não sei o nome, mas que sei ter a minha idade, percebo o quão pequenina sou neste mundo, sendo que a primeira coisa que senti quando iniciei esta leitura foi vergonha.
Como é que alguém que conta tudo isto pode ser tão grande? Como é que alguém com toda esta bagagem emocional existe? Como é que ao ler cada página parece que não sinto? Não estou feliz, não estou triste, não estou chateada. Levei um murro no lugar do coração só pode.
O que dizer? Não adianta falar sobre a sinopse, não adianta falar sobre o livro. São as palavras de alguém especial. Acho que nunca tinha lido nenhum livro deste género. Como diz a Célia na nota de autor:
“Este é o meu romance mais intimista ... polvilhado, claro está, dos pozinhos mágicos da ficção.”
Realidade e ficção, tornou-se impossível separá-las. A história é dela, é ficção, e é nossa. É sobre tanta coisa para além deste azar neoplásico. É sobre pessoas. É sobre sentimentos. É sobre as pequenas coisas que fazem de nós quem somos. É sobre perdão. Na verdade, é sobre o que nós leitores quisermos que seja.
Gostava de ter mais palavras para dizer, mas não sou a Célia! Não tenho o dom da escrita claramente.
🌟🌟🌟🌟
Podem ler aqui as minhas opiniões dos livrinhos da Célia já referidos acima:
Olá, Rosana! Só agora consegui vir aqui ler a tua opinião. Que bela reflexão fizeste sobre o livro. Beijinhos
ResponderEliminarOlá :)
EliminarMuito obrigada pelo comentário!
Tentei ser o mais sincera possível, mas às vezes as palavras fogem-nos.
Um beijinho,
Rosana