Sinopse:
Esta é a história da luta contra a culpa – e contra a dor, o esquecimento e a morte. É a história da luta contra a doença de Alzheimer.
A avó é forçada a cuidar do neto, quase adolescente, quando a mãe lho entrega. Depois de ter sofrido durante a revolução (por estar «no lado errado da história»), de perder tudo e de regressar à vida, tem de cuidar de um neto que mal conhece. Quando ele entra na adolescência e na droga, ela procura um emprego duro para conseguir pagar as contas.
Até que a doença muda tudo - é lenta, mas imparável. Ela precisa de cada vez mais cuidados; ele quer começar uma vida nova, mas vai percebendo que morre um pouco de cada vez que a avó se esquece das suas histórias e do seu nome. Para se resgatar, tem de lidar com o passado e com a sua própria culpa. Mais do que isso: tem de aprender a olhar para ela, ouvi-la e guardar as memórias para a salvar do esquecimento.
Opinião:
Foram várias as vezes que me sentei em frente ao computador para tentar escrever esta opinião, mas fui sempre interrompida por algo ou alguém. Os dias foram passando, mas a marca que a obra me deixou enquanto leitora ainda cá está.
Para começar posso dizer que apesar do tamanho pequenino, esta foi para mim uma leitura que tocou naquelas zonas mais frágeis do nosso coração, e por isso, deixo os meus parabéns ao autor por dar à Doença de Alzheimer mais uma perspetiva na primeira e na terceira pessoa 😊.
Considero que não se trata de uma obra para qualquer leitor nem mesmo para qualquer idade. Não é que seja uma obra complicada ou de difícil interpretação, pelo contrário, a escrita do autor é simples e capaz de nos transportar para o interior do livro sem o mínimo esforço. Mas o tema que este nos traz penso que poderá não alcançar da mesma forma o leitor mais jovem.
Falando do livro propriamente dito, esta podia ser a história de qualquer um de nós: a história de uma avó, de um filho, de um neto; a história que alguém contou enquanto o esquecimento não ganhou. Se pensarmos bem, todos nós já ouvimos falar de pessoas com este tipo de doenças, no entanto, é muito diferente estar lá, viver e sentir. Adorei a forma como o autor leva o leitor a seu lado, tornando-nos o amigo que acompanha cada palavra sua, porque a história que Mário Rufino nos traz é extremamente intimista, honesta, transparente e até real.
E mais do que continuar a tentar pôr nas minhas palavras o que achei do livro, deixo um excerto que partilhei aquando da leitura, mas que nunca é demais voltar a partilhar.
“Na manhã em que levei a minha avó a enterrar, há muito que ela me tinha morrido. Somente o seu invólucro entrou na terra. Foi vazio de histórias. De um segundo para o outro, até de respirar o corpo se esqueceu. Largado esse hábito, libertou-se de tudo.
Morri eu primeiro, morreu o seu filho, morreram as pessoas e os lugares e as palavras. Morremos nós, antes dela. Morremos nas conversas e num momento único e em queda, sem amparo. Viver até tarde tem um custo elevado: vemos desaparecer a família, amigos, conhecidos, até que o círculo se fecha.
O último a morrer será o último a lembrar e a esquecer. Tinha esta certeza até ver uma doença desfazer a sua memória. Ela era apenas um bebé velho com o tempo marcado na pele e o hálito da morte em cada movimento e em cada nome esquecido. A vida foi-se esfiapando e com isso desapareceu quem lhe ocupou a infância, a juventude e os anos antes da extremidade da vida. Desapareceram um a um, com drama, sem drama, de doença, por acidente, apagados linha a linha. Somos feitos de histórias e desaparecemos se não há ninguém para as contar.”
Por fim, deixo o meu agradecimento à Quetzal Editores pela cedência deste exemplar para divulgação, leitura e opinião.
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