domingo, 7 de junho de 2020

Opinião " A Breve História da Menina Eterna", Rute Simões Ribeiro

45998683. sx318 Sinopse

A Breve História da Menina Eterna é a quarta obra publicada de Rute Simões Ribeiro, finalista LeYa em 2015 com o seu primeiro romance. A narração acontece em torno do não contado, entre o presente e o passado que o explica, e de avisos ao leitor, para que não siga uma história que não espera, mas que não possa deixar. Explorando mistérios comuns, mas no exercício de um princípio improvável manifestado na ingénua personagem central, experimentam-se raciocínios, serenam-se angústias na eterna irresolução do mundo, deixam-se perguntas sem solução. A Breve História da Menina Eterna trata o amor e o sofrimento, a morte e o tempo. Conta-se uma história trágica, mas serena, franca e cândida. 

Opinião

A Breve História da Menina Eterna, a quarta obra publicada de Rute Simões Ribeiro, é, numa palavra, intrigante. Não posso, por isso, revelar-vos muito da história porque ela vale-se pelo seu enigmatismo e pela sua improvável e inusitada premissa.

Entre o passado e o presente, Rute apresenta-nos uma personagem, a inocente menina M, e um lugar utópico, ou falsamente utópico, onde ela cresceu e onde a morte foi esquecida.

Este é um livro fundamentalmente sobre a vida e a morte. Qual delas mais importa, a existência ou o evento? É a morte que dá sentido à vida, ou, pelo contrário, uma vez que vamos morrer nada vale a pena? A Breve História da Menina Eterna é quase um ensaio sobre estas temáticas, que nos assolam quando com elas nos deparamos, mas as quais esquecemos no nosso quotidiano. Apesar de pequeno, este não é um livro fácil, podem sentir-se perdidos no início, mas a narrativa assim o exige.

Neste seu último romance, Rute envolve-nos num estilo mais seu, afastando-se, não por completo, das influências da escrita de Saramago. Fiquei contente por assistir a esta evolução.

A perda da inocência quando nos sabemos finitos, o amor eterno entre mães e filhos, a eterna novidade quando nos deparamos com a morte como se não soubéssemos que vamos morrer, são algumas das questões abordadas nesta narrativa, construída na desconstrução do nosso pensamento.

Mais uma vez recomendo os livros desta maravilhosa escritora, e este em particular, para pessoas que como eu se equacionam e sofrem com crises existenciais e primordiais que fazem perder o sono, pelo menos uma vez na vida, até aos felizes inconscientes.

“E [a vida] acrescentou, virando-lhe as costas [à morte], “Tu és evento, eu sou existência"

Podem ler a minha opinião de Ensaio Sobre o Dever (Ou a Manifestação da Vontade) aqui, de O Escritor e o Prisioneiro aqui e de A Algeria de Ser Miseréval aqui.


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